Coronavírus: quais são as maiores causas de morte no

qual a maior causa de morte do mundo

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Minha odisséia para comprar frango assado.

Aqui onde moro (Alemanha), tem um carrinho de comida que fica ao lado de um supermercado, uns cinco quarteirões da minha casa. Eles vendem principalmente uma coisa: frango assado no espeto. Aquele frango suculento, com pele crocante, um tempero indeterminado, mas viciante, você sabe. Uma delícia. É também um dos favoritos dos alemães, e há sempre uma longa fila na hora do almoço.
Esse carrinho só aparece às sextas-feiras, por isso já é uma tradição daqui de casa ter um almoço de frango assado com acompanhamento. E esta sexta-feira não foi diferente, exceto pela onda polar que varreu minha querida cidade e a enterrou sob meio metro de neve.
Eu preguntei à Siri, na dura. "Hoje estão sete graus negativos". Eu verifiquei a sensação térmica e estavam -11 graus. Confesso que pensei duas vezes.
Vesti minha armadura. Camiseta, camisa, suéter, casaco, cachecol. Puxei coragem, abri a porta, respirei o ar gelado, abaixei a cabeça e pisei para fora.
Naquele momento, percebi minhas prioridades. Entre as necessidades básicas de ficar em minha casa mantendo minha temperatura corporal, versus o famigerado frango assado, eu escolhi o segundo. Eu estava literalmente disposto a arriscar o congelamento até a morte pela chance de me lambuzar comendo aquele frango. Meu amor pela comida era maior do que meu amor pela vida.
Eu perseverei. A calçada tinha um pequeno caminho livre de neve, cortesia de algum serviço de inverno pelo qual com certeza sou cobrado, embora estivesse escorregadio. Entre a máscara e o frio, meus óculos estavam completamente embaçados e eu não conseguia ver merda nenhuma. Avancei o melhor que pude.
Dois quarteirões depois, minhas mãos pareciam pedras roxas. Es esqueci as luvas. Não faz mal, vamos lá. O caminho era uma ladeira e o vento estava em contra, ou pelo menos parecia. Uma voz em minha cabeça gritava: "POR QUE VOCÊ ESTA FAZENDO ISTO?" Depois pensei no frango.
Continuei por horas (devem ter sido uns cinco minutos), e cheguei ao local. Levantei o olhar, e pro meu horror, o fodido carrinho não TAVA LÁ!
Desembestei em raiva. Tudo isso por absolutamente nada. Jorrei palavrões pra todo lado (embora duvide que os alemães tenham entendido). Peguei meu celular e, mesmo não conseguindo sentir meus dedos, escrevi para minha namorada que estava me esperando em casa: "a porra do carro não tá!!!!!!". Por que merda o dono daquele fodido carrinho não superou a neve, o frio e todas as besteiras como eu para ir ao lugar onde ele sempre está? Não têm pena dum pobre cristão?
Quem sabe eu devia ter adivinhado que eu era o único imbecil que ia comprar frango assado em um foodtruck no meio de uma pandemia com -7 graus. Mas a porra do frango é espetacular.
Eu me resignei e, para não desperdiçar a viagem, fui ao supermercado para comprar algumas coisas que eu precisava. Mesmo dentro do mercado acho que as pessoas notaram minha decepção, porque tava todo mundo olhando pra mim engraçado. Peguei o que queria e fui pagar, resmungando o tempo todo.
Nesse momento eu saio do supermercado, tiro a máscara e vejo o carrinho estacionado no outro lado da rua.
Não sei se foram meus óculos embaçados, se eu não conseguia pensar por causa do frio, ou se comicamente havia um caminhão ou algo que não me deixou vê-lo da primeira vez. Isso não importava. O carrinho estava lá e não havia fila (talvez eu seja o único imbecil, ou talvez a mudança estratégica de localização tenha sido uma surpresa para todos os outros também).
Corro até lá, resmungo o pedido no meu alemão básico, e saio dali feliz com meu penoso. E no meu momento mais triunfante, recebo uma mensagem no meu celular e, para minha surpresa, vejo que é minha mãe dizendo.
- Filho, eu sinto que hoje você vai brilhar!
Se você soubesse, mãe!
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Iluminando Ciro Gomes: o Brasil é o quarto país do mundo que mais tributa empresas

E supera todos os países da OCDE
Nota do Editor
Ciro Gomes, que nunca perde uma oportunidade para demonstrar suas qualidades mitomaníacas, utilizou sua conta no Twitter para mostrar qual a sua "solução" para a situação fiscal do Brasil.
Como sempre, ele fala sobre seus dois assuntos principais: tributar herança e tributar lucros e dividendos.
Sobre heranças, ele diz:
"Imposto sobre heranças. EUA cobram 40%, o Brasil cobra 4%."
Esta é a famosa técnica de contar uma mentira aludindo a alíquotas verídicas, porém descontextualizadas.
Sim, nos EUA, há uma alíquota de 40% sobre a herança, mas ela só incide para valores acima de US$ 11,20 milhões.
Mais ainda: na prática, há apenas 2.000 pessoas que pagam esse imposto.
Se o argumento de Ciro é o de que um imposto que incide sobre apenas duas mil pessoas é o responsável por bancar todo um país, boa sorte para ele.
Mas isso ainda é o de menos. É perfeitamente possível e legal evitar esse imposto: basta você criar uma fundação em seu nome. Não é à toa que milionários americanos são conhecidos por criar fundações em seus nomes, para as quais transferem toda a sua herança e então nomeiam familiares para gerenciarem tais fundações. Isso faz com que a herança, por mais bilionária que seja, se torne 100% isenta.
Mas Ciro, obviamente, nada fala sobre isso. Ele simplesmente dá a entender que, nos EUA, há uma alíquota 40% que incide sobre todos os cidadãos, e que esta é uma das causas da prosperidade do país.
No entanto, agora vem a pior parte:
"Taxar lucros e dividendos empresariais. Só o Brasil e a Estônia não cobram no mundo todo. Se cobrarmos o que eu já cobrei, o Brasil arrecada R$70 a 80 bilhões por ano, sem nenhuma distorção locacional porque é só o lucro e dividendo que sai da empresa, não o que é reinvestido."
Em primeiro lugar, e este é o tema do artigo abaixo, é uma inqualificável mentira dizer que o Brasil não tributa lucros empresariais.
O Brasil, de maneira geral, cobra dois impostos sobre os lucros: o Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido — os quais cobram, respectivamente, 25% e 9%, totalizando assim 34%.
Como será demonstrado abaixo, das 20 maiores economias do mundo, somente Brasil e França taxam as empresas em mais 30% dos lucros. As empresas no Brasil pagam em média aproximadamente 40% a mais do que no restante do planeta e 50% em relação à OCDE.
Isso explica por que há uma isenção na taxação de dividendos no Brasil: o governo brasileiro optou por tributar na pessoa jurídica e não na física. Todo o imposto já foi pago pela pessoa jurídica. Ou seja, o governo optou por IRPJ e CSLL altos e isenção de distribuição de lucros e dividendos. Na maior parte do mundo, o IRPJ é muito menor (CSLL nem existe) e há taxação quando os lucros são distribuídos na forma de dividendos.
Toda e qualquer análise sobre tributação de dividendos deve ser feita em conjunto com o Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e CSLL. Por isso mesmo, não faz nenhum sentido tributar os dividendos se não houver redução no IRPJ e na CSLL. Ciro nada propõe quanto a isso.
Implantar a tributação de dividendos iria apenas aumentar ainda mais aquela que já é a quarta maior carga do mundo (e a segunda entre os vinte mais ricos).
Por fim, como também será demonstrado, o Brasil já tem 92 tributos. Os outros países não chegam a 20. A tributação de dividendos significaria apenas a criação de mais um tributo, o que nos afastaria ainda mais dos outros países.
No Brasil, a alíquota máxima do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica é de 15%. No entanto, há uma sobretaxa de 10% sobre o lucro que ultrapassa determinado valor. Mas não pára por aí.
Há também a CSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido), cuja alíquota pode chegar a 32%; o PIS, cuja alíquota chega a 1,65% e a COFINS, cuja alíquota chega a 7,6%. PIS e COFINS incidem sobre a receita bruta. Há também o ICMS, que varia de estado para estado, mas cuja média é de 20%, e o ISS municipal.
Se você fizer a conta, irá se apavorar. Os estrangeiros fizeram.
Recentemente, o titular da Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, Salim Mattar, fez um tuíte comentando os números da OCDE, mostrando que o Brasil taxa muito as empresas (confira aqui).
Analisando os dados, é possível constatar que o secretário está correto.
Os dados estão no Corporate Tax Statistics Database da OCDE (link aqui) e consideram impostos sobre a renda das empresas do governo central e dos governos regionais.
São disponibilizados dados para 108 países: 36 pertencentes à OCDE e 72 não-pertencentes.
As alíquotas mais altas estão na Índia, 48,3%, seguida pela República Democrática do Congo e por Malta, 35%, e pelo Brasil com 34%.
É isso mesmo: as empresas brasileiras pagam a quarta maior alíquota de impostos sobre renda entre os 108 países avaliados pela OCDE.
E piora: em nenhum país da OCDE a alíquota é maior que no Brasil. Chega perto, como é o caso da França, mas não é maior.
Vale repetir para enfatizar: o Brasil tributa mais as empresas do que todos os países ricos da OCDE.
(Isso não é exatamente uma novidade para os leitores deste site. Este artigo, por exemplo, mostra que, após todos os impostos, uma empresa fica com apenas 3% de seu faturamento.)
Considerando todos os países da amostra de 108 países, a alíquota média é de 20,7%.
Retirando os 11 países onde a alíquota dos impostos sobre a renda das empresas é zero – nenhum deles pertence à OCDE —, a alíquota média sobe para 23%.
Para os países que não pertencem à OCDE e cobram alíquotas maiores do que zero, a alíquota média é de 22,8% e a mediana é de 25%.
A figura abaixo mostra as alíquotas desses 61 países que não pertencem à OCDE, com o Brasil em destaque.
Figura 1: alíquota total de impostos sobre a renda das empresas para os países que não pertencem à OCDE
Ou seja, dentre os países que não pertencem à OCDE, o Brasil só tributa menos que Índia, Malta e Congo.
Já na amostra com apenas os países da OCDE, a alíquota média é de 23,3% e a mediana é de 23,5%. A figura abaixo mostra essa amostra de países adicionada ao Brasil. Fica claro que as alíquotas de impostos sobre a renda enfrentadas pelas empresas brasileiras são bem maiores que as de outros países, inclusive de países ricos.
Figura 2: alíquota total de impostos sobre a renda das empresas para os países que pertencem à OCDE (o Brasil não pertence, mas está ali para efeitos de comparação)
Ou seja, somos o incontestável campeão mundial de tributação de empresas quando comparado aos países mais ricos e importantes do mundo.
A figura abaixo mostra as alíquotas em todos os países da amostra com destaque para um grupo selecionado de países; quanto mais para direita, maior a alíquota do país. O eixo vertical mostra quantos países possuem alíquotas menores que a do país.
O gráfico mostra que 97,2% dos países possuem alíquotas menores que a do Brasil e 12% possuem alíquotas menores que a Hungria.
Figura 3: no eixo X, a alíquota total de impostos sobre a renda das empresas; no eixo Y, a porcentagem de países com alíquotas menores que um determinado país
As consequências de uma alta carga tributárias sobre as empresas são nefastas.
A tributação sobre afeta os empreendimentos e os investimentos produtivos
Em uma economia livre, a quase totalidade dos lucros obtidos tem de ser poupada e reinvestida. A maneira de um empreendedor introduzir melhorias nos produtos produzidos e vendidos é reinvestindo a quase totalidade dos lucros obtidos. É por meio desse processo que o público geral se beneficia do capital acumulado pelos capitalistas e empreendedores.
O caso clássico é o de Henry Ford: ele começou com um capital de aproximadamente US$ 25.000 em 1903 e terminou com um capital de aproximadamente US$ 1 bilhão à época de sua morte em 1946. Foi graças a ele — que reinvestiu quase todo o seu lucro para aprimorar o processo de produção — que os automóveis apresentaram uma espetacular redução real de custo, indo de um preço hoje comparável ao de um iate para um preço que praticamente qualquer pessoa podia bancar.
Ford foi responsável pela maior parte do enorme progresso ocorrido nos automóveis produzidos ao longo desse período, bem como na eficiência com que eles passaram a ser produzidos. Ford reinvestia seus lucros na expansão da produção destes automóveis aprimorados.
Se seus lucros houvessem sido confiscados pelo governo, dificilmente teria ocorrido tamanha evolução no mercado automobilístico.
Os lucros são exatamente o que possibilitam as empresas a fazer novos investimentos, a adquirir mais maquinários, a expandir suas instalações e, com isso, aprimorar sua capacidade produtiva.
São também os lucros que possibilitam a contratação de novos empregados ou até mesmo a concessão de aumentos salariais.
Em qualquer setor da economia que opere sob concorrência, os lucros necessariamente têm de ser reinvestidos na empresa, seja na forma de reposição de estoques, seja na forma de expansão dos negócios, seja na forma de contratação de novos trabalhadores, ou até mesmo na forma de aumentos salariais. Se isso não ocorrer, as empresas simplesmente não serão capazes nem de repor seus estoques. Consequentemente, perderão sua fatia de mercado.
São os lucros, portanto, que permitem que as empresas façam novos investimentos, intensifiquem seu capital produtivo, contratem mais pessoas e paguem maiores salários.
Impostos sobre a receita e sobre o lucro das empresas afetam diretamente todo esse processo de formação de capital. Tributar receita e lucro significa fazer com que a capacidade futura de investimento das empresas seja seriamente afetada, o que significa menor produção, menor oferta de bens e serviços no futuro, e menos contratação de mão-de-obra.
Quando o governo tributa receita e lucro, ele apenas faz com que o dinheiro que seria utilizado para ampliar e aprimorar os processos produtivos seja agora direcionado para o mero consumismo do governo, ficando sob os caprichos de seus burocratas, obstruindo a formação de capital.
A maior parte daquela fatia que é confiscada pela tributação teria sido usada para a acumulação de capital adicional. Se o governo utiliza essa receita para financiar suas despesas correntes, o resultado será uma diminuição na acumulação de capital.
Como consequência dessa redução na acumulação de capital, o progresso (inclusive tecnológico) fica prejudicado. A quantidade de capital investido por trabalhador empregado — o que aumentaria sua produtividade — é diminuída. Assim, o aumento da produtividade marginal do trabalho e o correspondente aumento dos salários reais é interrompido.
É praticamente impossível uma economia prosperar e enriquecer se suas empresas são tributadas em níveis confiscatórios. Não é à toa que os países nórdicos são conhecidos por tributarem pouco suas empresas. Vide as posições de Noruega (Norway), Dinamarca (Denmark), Suécia (Sweden) e Finlândia (Finland) na figura 2. Suas alíquotas são, respectivamente, 22%, 22%, 21,4% e 20%.
Imposto sobre dividendos
A discussão a respeito das alíquotas de impostos sobre a renda das empresas ganha ainda mais relevância em um momento em que o governo fala de taxar dividendos, uma tributação que incide sobre o dinheiro que a empresa paga aos acionistas.
O argumento mais corriqueiro é o de que "praticamente todos os países do mundo tributam dividendos". Não vale. O Brasil tem nada menos que 92 tributos. Os outros países não chegam a 20. Logo, a tributação de dividendos significaria apenas a criação de mais um tributo, o que nos afastaria ainda mais dos outros países.
E há também os efeitos não-premeditados. Tributar dividendos tem o potencial efeito de imobilizar recursos em uma empresa que pode não ser a mais interessante para investir. Se o imposto sobre dividendos for muito alto, o acionista pode preferir manter o dinheiro na firma a receber os dividendos e investir em outra empresa mais produtiva. Isso reduz o dinamismo da economia, premiando as empresas menos eficientes e afetando o redirecionamento de recursos para as empresas mais eficientes.
Para concluir
Qualquer ideia sobre tributar dividendos não pode ir adiante sem antes o governo efetivamente reduzir o Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL).
Caso contrário, iremos apenas disputar com a Índia o topo do ranking dos países que mais tributam o lucro das empresas — o que, convenhamos, não é uma meta alvissarreira.
Roberto Ellery sexta-feira, 8 jan 2021
Fonte: https://www.mises.org.barticle/3270/iluminando-ciro-gomes-o-brasil-e-o-quarto-pais-do-mundo-que-mais-tributa-empresas-
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"Os Negacionistas" ou #vaificartudomuitomal

https://observador.pt/opiniao/os-negacionistas-ou-vaificartudomuitomal/
Nos últimos tempos, a pretexto da Covid, convencionou-se chamar "negacionistas" a todos os que ousam colocar em causa a palavra dos senhores que mandam nisto. Dado que a palavra destes muda a cada dia, ou às vezes em poucas horas, não se percebe qual o grau de amnésia, ou simples estupidez, necessário para se levar semelhante palavra a sério. Porém, esse não é o ponto. O ponto é que, conforme acontece nas nações menos afeiçoadas a preceitos democráticos, a prepotência e a inaptidão precisam de bodes expiatórios para não parecerem tão prepotentes e inaptos. E os "negacionistas" vêm a calhar. Mas não calha bem.
Começo por notar que os "negacionistas" não prejudicam ninguém: não são eles que propagam a Covid aos cidadãos cumpridores que, justamente por não serem "negacionistas", não violam as 7.329 (em actualização) regras do "confinamento", não se expõem a riscos desnecessários e nunca se cruzariam com um negacionista. Se pensarmos um bocadinho, é impossível por definição os cidadãos cumpridores apanharem o vírus, pelo que os hospitais, a estarem repletos, estão repletos de "negacionistas" a sofrer o justo castigo. Fora isto, há mais uns pormenores.
Não são os "negacionistas" que aplaudiram as restrições à liberdade até estas se revelarem tão catastróficas na saúde quanto na economia, momento aproveitado para exigir mais restrições e ilibar o governo no processo: antes do recorde de casos e mortes, o dr. Costa era um líder forte e redentor, agora é um santinho brando e com uma ponta de azar.
Não são os "negacionistas" que difundem notícias falsas ou selectivas acerca da "eficácia" dos "confinamentos", e da sua aplicação "idêntica" em "todos" os países.
Não são os "negacionistas" que forçam "confinamentos" propensos a criar mutações agressivas no vírus e nas cabecinhas.
Não são os "negacionistas" que proíbem os espaços e as actividades ao ar livre, onde o vírus mal se propaga ou não se propaga de todo, para enfiar as pessoas em casa, após convívio caloroso nos transportes públicos, nos supermercados e, até ontem, nas escolas.
Não são os "negacionistas" que identificam a especial perigosidade do vírus em postigos, bancos de jardim, livros, cuecas, na água em "take away" e, depois das 20.00, na pinga.
Não são os "negacionistas" que culpam Trump, Johnson e Bolsonaro pelos efeitos da Covid nos respectivos países e isentam os nossos amados líderes da mesmíssima coisa.
Não são os "negacionistas" que atropelam o (escasso) consenso científico e o mero bom senso para se limitarem a abolir, obrigar e punir, de acordo com os índices de popularidade e falta de vergonha.
Não são os "negacionistas" que tratam os portugueses como criancinhas particularmente retardadas, com direito a prendinhas pelo Natal e a tautau pelos abusos subsequentes.
Não são os "negacionistas" que sobre a contenção da Covid já disseram tudo e o seu contrário, num desnorte que nos últimos dias chamou a atenção de várias juntas psiquiátricas.
Não são os "negacionistas" que andam há quase um ano a ignorar os lares de velhos, os quais contribuem com cerca de um terço das mortes "de" ou "com" Covid.
Não são os "negacionistas" que passaram anos a louvar o "melhor serviço nacional de saúde do mundo" ao mesmo tempo que lhe retiravam verbas e o deixavam no estado desgraçado que já se constatava antes da Covid.
Não são os "negacionistas" que por fanatismo ideológico recusam a colaboração dos hospitais privados, excepto através de ameaças tresloucadas de "requisição civil", uma brincadeira que levaria os proprietários a fechar o tasco e os respectivos médicos a fugir em debandada da Venezuela.
Não são os "negacionistas" que, para disfarçar a debilidade dos hospitais públicos, condenam à morte milhares de pacientes com doenças pelos vistos arcaicas como cancros, enfartes e aborrecimentos afins.
Não são os "negacionistas" que se passeiam escusadamente por lares, hospitais e escolas, acompanhados por repórteres aos magotes e um genérico cheirinho a Terceiro Mundo.
Não são os "negacionistas" que elaboraram um plano de vacinação ridículo no papel e inexistente na prática: além do orgulho pelo maior número mundial de infectados e mortos, justifica-se cantar o hino pela menor percentagem de vacinados em todo o Ocidente, conquista que nos demorou apenas três semanas a alcançar.
Não são os "negacionistas" que arruinam pela falência centenas de milhares de famílias para fingir que se tomam "medidas" e "decisões", a cargo de criaturas que nunca trabalharam na vida.
Não são os "negacionistas" que ouvem e reproduzem o palavreado canalha dos governantes sem uma dissidência, uma questão, uma duvidazinha sequer.
Não são os "negacionistas" que celebram "Abris" e "Primeiros de Maio" e "Avantes!" com especiais proximidade e carinho, no fundo para celebrar o privilégio de alguns face à ralé.
Não são os "negacionistas" que exigem a prisão domiciliária da população em peso, desde que o salário dos privilegiados não seja partilhado com os sacrificados para efeitos de "solidariedade" e "união", penduricalhos tão bonitos na conversa fiada.
Não são os "negacionistas" que alimentam o medo destinado a transformar indivíduos adultos em bonecos servis, e uma sociedade num laboratório de experiências doidas.
Não são os "negacionistas" que escarnecem da pobreza que provocam a "salvar vidas" (desculpem) enquanto estrafegam o saque em "investimentos" na TAP e na banca.
Não são os "negacionistas" que espalham o caos e a irracionalidade para simplificar a conquista do Estado e atafulhá-lo com detritos em forma de gente.
Não são os "negacionistas" que usam a Covid para uma ofensiva furiosa contra tudo o que tenta respirar fora da órbita estatal, de hospitais a escolas, passando pela internet e pela liberdade em suma.
Não são os "negacionistas" que defendem a concessão de mais poder a quem usou o poder que já tinha para espalhar mentiras, desfilar arbitrariedade e exibir uma brutal incompetência.
Não são os "negacionistas", nem a "estirpe inglesa", nem o frio, nem o sector privado, nem o Natal que fazem com que Portugal caia nesta criminosa miséria: são vocês."
submitted by aurocha to portugueses [link] [comments]

Memórias de jabutis e discussões de imortalidade

DISCLAIMER rápido antes de começar o conto: eu nunca postei nada meu para feedback e eu mal tenho 18 anos, então o que eu quero dizer é: não sejam o Monteiro Lobato da minha Anita Malfatti por favor; eu quero um feedback sincero, só não quero ser absolutamente massacrada.
Se consultar qualquer livro de biologia, receberá uma resposta unânime: um jabuti sortudo e saudável vive em média 80 anos. Quem quer que tenha chegado a essa precisa conclusão, com toda certeza, nunca conhecera o meu jabuti. A figura ilustre da família Agustini e causa da minha insônia e derrota.
Minha família nunca fora uma que, de fato, preocupou-se em criar um legado, de qualquer tipo, para seus descendentes. Viviam no seu presente e não eram particularmente bons em planejamento. Ocuparam-se somente – ao menos, quero dizer – em arranjar uma casa, num momento esquecido na metade do século XIX. Foi nessa casa que vivi o começo da minha morte.
Quando meu pai falecera, não herdei nada de valor. O pouco dinheiro herdado fora gasto no primeiro mês com o conserto do encanamento da casa dos Agustini. Apenas herdei, de verdade, o jabuti. O maldito jabuti. Chamava-o Astor, com consciência de que não era seu nome. Escrevo agora sem lembranças de se em algum dia soube o verdadeiro nome da excelência de jabuti que ele era – ainda deve ser – ou se a cada geração trocava-se o apelido do amaldiçoado.
Sabia pouco do bicho quando o conheci. Ele acompanhara meu avô durante sua vida toda e depois, fizera questão de acompanhar também meu pai. Meu avô morrera com quarenta anos, meu pai com trinta, então, até ali a conta fazia sentido. Eu tinha pouco mais de dez anos na leitura do testamento. Tinha visto meu pai duas ou três vezes antes do funeral. Minha mãe recebera o dinheiro por mim e mudamo-nos para a casa da família Agustini.
A casa estendia-se na linha que dividia o encantador e o horrífico. Era um casarão. As janelas altas fechadas recusavam-se a abrir, as abertas recusavam-se a fechar. As portas rangiam. O piso de madeira gritava com a dor de ser pisado. A rede elétrica não funcionava, qualquer lâmpada acesa era um risco de incêndio e logo tive de aceitar o inevitável: a luz das velas e dos lampiões seria minha única iluminação nas noites.
O jabuti ficava na biblioteca, arrisco até mesmo dizer que nunca o vi em nenhum outro cômodo. A biblioteca era um dos maiores quartos do casarão. O teto era mais alto e tinha um lustre inútil pendurado em seu meio. As estantes eram altas e carcomidas, recheadas de livros antigos, cheirava de velhice. Tudo me deixava espirrando por dias com a poeira anciã. Os quadros cobertos não me incomodavam ou despertavam curiosidade, só existiam e, naquela época, isso me bastava.
Todavia, cresci. Em algum momento da juventude, as peças soltas em minha mente e memória infantil foram encaixando-se, revelando para mim um quebra-cabeça. Enigma que teimava em não formar uma imagem coerente e deixava-me acordado noites a fio, inseguro do que se passava naquele casarão isolado.
Pesa-me admitir, porém minha vida resumiu-se em dois períodos, antes do casarão e depois do casarão. Dois períodos curtos, como o leitor já deve adivinhar. Muito cedo me encontrei com o silêncio do caixão, no entanto, mais tarde do que meu tormento me levava a desejar. Minha lembrança me falha em vezes, porém nunca falhou em me recontar com precisão cirúrgica o que acontecera naquela noite fria de agosto.
Tinha vinte anos na época. Não conseguia dormir havia dias, semanas talvez. Levantei-me sonolento. Cambaleando como um bêbado eu vaguei pelos corredores, de pés descalços, embrulhado num casaco longo, de olhos entreabertos, sem rumo e sem intenção. Peguei-me girando a maçaneta da biblioteca, empurrando a porta pesada. Nunca soube como cheguei lá, nem por que fui até lá, mas, nos poucos anos que me sobraram depois do episódio, comecei a culpar meu estado desacordado, sedado pela falta de sono.
Com os braços incertos, levantei o lampião na altura dos olhos e entrei. O jabuti inerte estava do outro lado do cômodo. Observava-me com a mesma questão tortuosa que eu o observava. Deitei-me no chão. Bocejei. Virei minha cabeça para evitar o olhar julgador do animal.
Embaixo da estante, havia uma caixa verde. Estreitei o olhar. Lento e impreciso, rastejei-me até ela. Puxei-a como se fosse uma folha de tão leve.
Era tão velha quanto a casa em si. Assoprei a poeira de cima e limpei o resto com as mangas do casaco. O nome da família estava inscrito com uma letra dourada, já desbotada pelo tempo. AGUSTINI. Sorri sozinho. Abri-a com cuidado. Parecia-me tão frágil e tão irreal que talvez um movimento brusco me fizesse acordar. Mirei de esguelha o jabuti. Ele ainda me encarava com os olhos fundos.
— Você sabia que isso estava aqui? – Perguntei com um riso baixo.
— Sim. – Jurei ouvir sua resposta misturar-se à ventania do corredor.
Engoli em seco. Balancei a cabeça. Já tinha lido uma vez: depois de algumas horas sem dormir, o cérebro começa a alucinar. Voltei minha atenção para a caixa. Coloquei-a perto da luz. Estava estufada de fotos e cartas velhas. Eu não sabia tanto quanto desejava sobre a família paterna, não precisei muito, no entanto, para reconhecer meu pai e meu avô na primeira foto que vi. Os dois parados na biblioteca. Meu avô sentado na cadeira de veludo vermelha. Ele parecia-se comigo, deveria ser apenas alguns anos mais velho naquela foto. Meu pai, criança, sentava ao seu pé, ao seu lado o anônimo jabuti. Mostrei-lhe a foto.
— Já estava velho aqui.
— Continue olhando. – Retrucou impaciente.
Dessa vez, ouvi alto e claro. Alucinação nenhuma falava com aquela dicção. Não enxergava o suficiente para dizer se ele estava mexendo-se. Pouco me importava. O desgraçado estava falando! Sua voz era rouca. De alguma forma, ele soava exatamente como eu tinha imaginado, por mais que não me recordasse até aí de imaginá-lo falando.
— Como? – Gaguejei.
Pensando agora, pode ser que nem tenha produzido um som. Fiquei parado com a boca aberta procurando uma palavra inexistente.
— Continue.
— Isso está acontecendo mesmo? – Não sei por que perguntei ao jabuti, mas perguntei. Ele não respondeu. Coloquei meu dedo perto a chama do lampião. O calor esquentava sem vergonha os meus dedos. O tapete pinicava minhas pernas. O ar ártico convidado a entrar pela janela fazia minha cabeça latejar. Era real. – Você sempre falou?
— Continue olhando.
Deixei a foto de lado. Uma porção de cartas amareladas eram o que seguia. Tirei uma por uma da caixa. Mesmo com os olhos cansados, nada poderia me impedir de lê-las e relê-las. Nenhuma fatiga do mundo me importou depois que o jabuti começou a falar. Não reconhecia nome algum nelas, nem de quem as escrevia nem de quem as recebera. Nunca as cometi a memória. Ao menos, não todos os trechos, somente os que me assombraram pelo resto da vida.
“Paulo, volte logo, o coitado do Arthur adoeceu. Se me permite, ele viveu mais do que imaginei que viveria. O médico ainda me afirma não saber qual é a doença. Não preciso que me diga o que está errado, ninguém parece compreender isso. Volte assim que receber a carta. Ele não durará muito e quer que se mude para cá com o jabuti.”
Procurei a data. Minhas mãos de terremoto girando aquele papel ancestral. Nada. Absolutamente nada. Cocei os olhos. A assinatura trazia “Amelie Agustini”. Eu nunca tinha escutado esse nome antes. No entanto, já escutara sobre Paulo Agustini. Meu bisavô, nascido em algum ano por volta do início da década de 1920. Não tive a coragem de virar minha atenção para o jabuti. Não naquele instante. Joguei essa carta ao lado. Puxei a próxima.
“Arthur, estamos aguardando seu retorno o mais pronto possível. Não me admira sua distância e não me dou o luxo de sequer imaginar o que possa estar fazendo tão solitário. Você está bem, disso eu sei, já me contou maravilhas em suas outras cartas. Nada posso fazer a não ser suplicar pelo seu retorno. Camilo já está na cama e mal abre os olhos. Sabe que deve morar com o jabuti agora.”
A caixa ainda tinha mais cartas. Não ousei abri-las. Joguei tudo de volta. Fechei-a com força, na esperança de que emperrasse e nunca mais pudesse ser aberta. Chutei-a de volta para debaixo da estante. Coloquei meu dedo no fogo sem pensar. O aviso do calor era tão inevitável quanto irrelevante. Gritei com a queimadura. Recuei como um animal. Meus dentes rangendo, enquanto meus dedos derretiam como cera bege.
— Que quer dizer “morar com o jabuti”? – Meu estômago revirava. Tremia de frio. O suor descia contornando cada detalhe e defeito do meu rosto. – É você? Isso não faz sentido. Você não pode viver tanto assim. Eu li livros sobre jabutis. Você já deveria estar beirando a morte.
— Eu suponho que jabutis também não tenham a capacidade de falar, mas você me escuta muito bem, não escuta? – Ele provocou. Eu odiava-o. Ainda o odeio. Nem a morte consolou-me do quanto ardia de ódio por aquele bicho estúpido.
— Como chegou aqui?
— Eu moro aqui.
— Eu percebo que mora aqui, Astor. – Ricocheteei. – Quero saber, como minha família te encontrou?
— Estava aqui quando se mudaram.
— Quem morava aqui antes? – Choraminguei.
— Ninguém, se minha memória não me falha. São tantos anos, posso me esquecer de um detalhe ou outro.
Sua voz tinha entonação demais para um bicho que mal se movia. Persegue-me até no além. Não consigo esquecer. Aquela voz de gente presa num ser tão ridículo e grotesco como ele. Continuava na penumbra.
— Quem construiu a casa? – Eu estava chorando, sem soluços e sem exageros.
— Não sei. – Disse sincero. – Estou aqui desde que me lembro.
— Por que você não morre?
— Não há necessidade para a sua agressividade. Está sendo irracional, agora. Não escolhi não morrer, apenas nasci e nunca morri. Nada me garante que nunca morrerei. – Ele fez uma pausa. Fitou-me preocupado. Estremeci. – Tenho que dizer, os homens da sua família morrem até demais.
— É por sua causa?
O ponto de interrogação é um eufemismo, leitor. Eu não perguntei. Eu denunciei-o. Era uma acusação bruta.
— No fim do dia, sou um jabuti, não sei se consegue compreender isso. Sim, eu falo. Sim, aparentemente, não morro. Mas, sou um jabuti de qualquer forma, não sou? Não entendo como poderia ser a causa da morte dos homens da sua família. – Suspirou. – Imagino que... Veja, tudo que eu faço é dar uma razão. Um consolo, se preferir, para a morte deles. Se me dá essa liberdade, sugiro que arranje um filho o mais rápido possível.
— Para quê?
— Ora, para que fique comigo depois que você morrer.
— Como?
— Suponho que funcione assim. É o que ouvi de sua família. Dizem que o mais cedo consegue um filho que fique com o jabuti, mais viverá. Veja, seu pai demorou um pouco em te arranjar, seu avô já foi mais esperto. Se me lembro bem, seu avô também teve muita sorte. Nunca vi um homem viver tanto como ele viveu, mas com certeza, sempre há um que foge do normal. – Vi-o sorrir com a dentadura amarela e podre. – O relógio não está muito em seu favor.
— Você é uma entidade? – Não acreditava na minha pergunta. Minha voz me era como um eco distante.
— Não sei.
— Deve saber.
— Alguns mistérios na vida não foram feitos para serem desvendados. Não aqui. O relógio não está muito em seu favor. Sabe disso, não sabe? É claro que sabe. O relógio não está muito em seu favor.
O mais ele repetia a mesma oração, mais ela enfiava-se entre as dobras do meu cérebro. E no fim daquele vácuo, era a minha voz que gritava de volta. Repetindo... Repetindo... Repetindo. O relógio não está muito em seu favor. Não sabia qual relógio. Não sabia em que jogo eu era a aposta. Só sabia que estava perdendo. O relógio não estava muito em meu favor. Poderia estar, se eu quisesse, talvez.
Eu saí da biblioteca tropeçando nos meus pés. Fechei a porta atrás de mim e respirei fundo. Não fiz mais nada aquela noite. Fui para meu quarto. Tranquei-me. Dormi por um dia inteiro.
Acordei com o sol lambendo o meu rosto. Minha lembrança não me respondia quando eu perguntava se a minha conversa com o jabuti, de fato, ocorrera. A caixa verde, as fotos e as cartas eram reais, isso verifiquei. Entretanto, a maneira na qual o bicho me encarava quando tentava concentrar-me na biblioteca era a única confirmação que precisava. Astor falava e, até onde eu sabia, era alguma entidade controlando o meu tempo de vida.
Já sabia que não me restava muito tempo mais, seguindo com minha linhagem ou não. O mais encontrava com o jabuti, o mais eu tinha pesadelos. O mais ouvia os passos anônimos nos corredores durante a noite. O mais tomava remédios para poupar-me da insônia. O mais eu me convencia que não passaria aquela maldição adiante.
Não era tanto sobre o medo me paralisando, como era sobre a esperança de que, caso a família Agustini acabasse comigo, talvez o jabuti morresse junto. E eu não queria nada mais que isso. Queria-o morto. Deitaria sorridente em qualquer caixão, se pudesse ter certeza de que aquele diabo de bicho agonizaria até a morte.
Nunca saberei se meu plano funcionara ou não. De vez em quando, na calada do infinito, pego-me imaginando o jabuti, plantado naquela biblioteca, esperando pela próxima família se mudar para a casa e iniciar seu culto novamente. A verdade é que há mistérios que sequer um homem morto consegue responder.
Os próximos quatro anos que tive de vida passaram por mim como um mês longo e interminável. Nessa primeira semana, minha mãe mudou-se de volta para a cidade. Até hoje desconhece a natureza do jabuti e a existência da caixa verde na biblioteca. Despedi-me com promessas de escrever todas as semanas. Escrevi menos de cinco vezes.
Na segunda semana, gastei meus dias lendo as cartas. Vendo as fotos. Mudando alguns livros de lugar. Olhando as pinturas dos antigos Agustini acompanhados do jabuti.
Na terceira semana, ignorava por completo o animal. Fingia que não existia. Passava os meus dias sentado na cozinha ou deitado na grama do jardim vazio. Fazia tudo esperando que minha morte chegasse logo.
Fora apenas na quarta semana quando percebi a passagem do tempo como ela é. Não tinha consciência de que aquele seria meu último ano, porém algo em mim já parecia saber. Hoje reconheço isso. Na época, não passava de um aperto estranho em minhas tripas me dizia que tudo estava errado. Era evidente que tudo estava errado. Estava isolado num casarão assombrado com um jabuti imortal. Falhei em perceber que o sentimento era o aviso do fim iminente.
Não pense, leitor, que nesses últimos momentos, não me desesperei com a perspectiva única de quem se aproxima da morte. Talvez fosse a solidão. Talvez fossem os fungos antigos fazendo efeito. Talvez fosse a incerteza do futuro post mortem. Não a incerteza de para onde eu iria ou qual seria meu destino após a morte, e sim, o que aconteceria com o jabuti. Incerteza que permanece e rói o que me sobrou.
Mais de uma vez cogitei abandonar meu plano. Mais de uma vez cheguei a arrumar-me para sair, determinado em conhecer alguém e fazer de tudo para seguir com a linhagem dos Agustini. Dar-me o luxo de mais alguns anos ou meses que fossem de vida. Foram nesses quase deslizes que o quebra-cabeça mal elaborado, por fim, revelou-se a mim. Todas as questões que me perseguiram pelos anos foram respondidas.
Se algumas crianças eram frutos de uma história de amor, eu era fruto das ações inconsequentes de um homem que desejava escapar da morte. Fora esse o fardo que eu carreguei nas costas por toda a minha vida. E não o carregava sozinho. Todos os homens da família nada mais eram do que uma tentativa medíocre de viver. A última vez que se coloca a cabeça para fora da água antes de ser engolido pelo mar.
Tinha que acabar comigo e comigo acabou.
Não me lembro meus delírios de morte. Se os lembrasse, também não teria interesse em narrá-los. Se eu sou honesto com o leitor, sequer tenho certeza se esses delírios existem ou são meras fabricações da minha mente desocupada e desincorporada. A divisória entre o vivo e o morto é plástica e é transparente.
Há uma imagem martelada na minha mente. Instalada com tamanha força que seria uma traição não a narrar. Fecho os olhos – suponho que ainda tenha olhos, talvez não passe de uma enganação do meu consciente lutando por um último gosto de estar vivo – consigo ver a próxima família na antiga casa dos Agustini.
Nenhum deles tem rostos ou uma voz, porém, vejo-os entrar com a esperança de começar uma nova vida num novo lugar, ao meio da natureza e longe dos perigos da cidade. Lá as crianças podem aprender a viver longe do caos da civilização urbana. Então, andando cuidadosos pelo chão inseguro jamais restaurado, encontram o jabuti na biblioteca, com seu sorriso malicioso que mais ninguém enxerga. A expectativa de quando descobrirão a real natureza do animal alimenta-me, mantém-me vivo depois do túmulo e da decomposição.
A única questão que deixa o amargo na minha boca – eu imagino ser a minha boca, pelo menos – é qual nome escolherão para o Astor.
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FRASES DE DUMBLBLEDORE

Harry Tiago Potter (31 de julho de 1980, Godric's Hollow, Grã-Bretanha) é um bruxo mestiço), filho único de James Potter e Lílian Potter (nascida Evans), é um dos bruxos mais famosos dos tempos modernos. Ele foi um dos estudantes mais famosos na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts do seu tempo. Ele foi o único sobrevivente da Maldição da Morte, lançada por Lord Voldemort, que tentou matar ele quando bebê, o que causou sua primeira derrota e o fim da Primeira Guerra Bruxa, assim como deixando Harry órfão. Este foi levado para viver com os seus parentes trouxas, os Dursley, os únicos familiares de Harry ainda vivos.
Com onze anos, Harry soube através de Rúbeo Hagrid, o guardião das Chaves e das Terras de Hogwarts, que ele era um bruxo. Ele começou então a frequentar a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts onde, por meio do chapéu seletor, foi posto na Grifinória. Na escola, Harry tornou-se melhor amigo de Ronald Weasley e Hermione Granger. Ele tornou-se o mais novo Apanhador do último século, e eventualmente o capitão de Quadribol da sua equipe, o Time de Quadribol da Grifinória, ganhando duas Taças de Quadribol como parte da equipe.[12] Ele tornou-se ainda mais conhecido nos seus primeiros anos por proteger a Pedra Filosofal de Voldemort e por ter salvado Gina Weasley da Câmara Secreta. No seu quarto ano, Harry ganhou o Torneio Tribruxo, embora a competição tenha terminado tragicamente com a morte de Cedrico Diggory e o regresso de Lord Voldemort. No ano seguinte, Harry fundou, com relutância, a Armada de Dumbledore e lutou na Batalha do Departamento de Mistérios, durante a qual ele perdeu o seu padrinho, que era uma figura paterna para ele.
Harry desempenhou um papel significativo em muitas outras batalhas da Segunda Guerra Bruxa e caçou e destruiu as Horcruxes de Voldemort com Hermione Granger e Rony Weasley. Durante a Batalha de Hogwarts, ele pessoalmente testemunhou as mortes de Severo Snape e Fred Weasley, e descobriu que Remo Lupin, Ninfadora Tonks, Colin Creevey, e muitos outros também haviam morrido. Ele encontrou Voldemort e sacrificou-se, sabendo que era isso que Dumbledore havia planejado. Em uma espécie de limbo, Alvo Dumbledore deu a Harry conselhos; ele acordou e duelou com Voldemort uma última vez, e o derrotou
Depois da guerra, Harry se tornou um Auror, se casou com Gina Weasley , com quem ele teve três filhos: Tiago Sirius, Alvos Severo, e Lílian Luna. Harry também foi nomeado padrinho de Teddy Remo Lupin. Ele sentiu os efeitos da Maldição Cruciatus e da Maldição Imperius várias vezes. Ele também foi atingido por uma Maldição da Morte duas vezes, mas sobreviveu. Harry é também notável por ser o único Senhor da Morte conhecido, tendo unido as Relíquias da Morte.

Linhagem familiaredit | edit source

Os Potter foram uma família sangue puro antiga. Os Potter descendem da família Peverell, uma antiga linhagem bruxa, por Ignoto Peverell, que passou a Capa da Invisibilidade para os seus descendentes. Os Gaunt, descendentes de Salazar Sonserina, também descendem dos Peverell, pelo irmão de Ignoto, Cadmo, que passou a Pedra da Ressurreição como uma relíquia de família no anel de Servolo Gaunt, tornando Harry e Tom Riddle parentes muito distantes.
É também provável que Harry era distantemente aparentado, pelo lado do pai, aos Black, Malfoy, Weasley, e aos Longbottom[13], e quase todos as outras família de sangue puro, tornando-o distantemente aparentado a vários outros bruxos e bruxas, incluindo Belatriz Lestrange, Sirius Black, Ninfadora Tonks, e até seu própria futura esposa Gina Potter, embora o grau de ligação não é conhecido.

Infância

"Ele vai ser famoso, uma lenda. Eu não me surpreenderia se o dia de hoje ficasse conhecido no futuro como o dia de Harry Potter. Vão escrever livros sobre Harry. Todas as crianças em nosso mundo vão conhecer o nome dele!"
—Minerva McGonagall discutindo o futuro de Harry Potter no mundo bruxo.
Harry Tiago Potter nasceu em 31 de julho de 1980, de Tiago e Lílian Potter, membros da primeira Ordem da Fênix na época da Primeira Guerra Bruxa, apenas algumas horas depois de Neville Longbottom, que viria a ser seu colega de classe.
Seus pais viviam na clandestinidade desde 1979, quando descobriram que Lílian estava grávida. Quando Harry nasceu, Lílian realizou um batismo; foi discreto e rápido, apenas ela, Tiago, Harry e Sirius como padrinho. Harry viveu sua primeira infância na casa dos pais em Godric's Hollow, no oeste da Inglaterra.
No primeiro aniversário de Harry, Sirius o deu uma vassoura de brinquedo. Na carta de Lílian para Sirius, ela menciona que este foi o presente favorito de Harry e que ele quebrou um vaso horrível que Petúnia a dera. Lílian e Tiago também fizeram um discreto chá de aniversário, convidando apenas Batilda Bagshot. Os Potter também tinham um gato, mas não se sabe o que aconteceu com ele após o ataque de Voldemort.
Para mantê-los a salvo do Lorde das Trevas, que os marcou para morrer depois de ouvir uma profecia que previa a sua queda nas mãos de um menino nascido no fim de julho, Alvo Dumbledore sugeriu que estes usassem o Feitiço Fidelius. Os Potter queriam que Sirius Black fosse o Fiel do Segredo, mas, seguindo o conselho dele próprio, transferiram esse papel para Pedro Pettigrew, achando que levantariam menos suspeitas. Por um terrível infortúnio, Pettigrew era um espião de Voldemort, e traiu os Potter, delatando-os para seu senhor. Na noite do dia 31 de outubro de 1981, Voldemort foi à casa dos Potter para matá-los. Matou primeiro Tiago, que tentou distraí-lo; mas, infelizmente, não tinha a varinha consigo, e foi morto imediatamente. O Lorde das Trevas então avançou para Lílian, que morreu tentando proteger o filho. Seu sacrifício impediu que a Maldição da Morte funcionasse em Harry, pois seu amor por ele era tamanho que se tornou uma barreira que protegia o filho. Quando Voldemort tentou matá-lo, a maldição ricocheteou, e, ao invés de atingir Harry, atingiu Voldemort, que perdeu todos os seus poderes e sua forma física foi destruída.
Voldemort só se salvou da morte graças às cinco Horcruxes que havia feito até aquele ponto: seu diário, o anel de Servolo, o medalhão de Slytherin, a taça de Hufflepuff e o diadema de Ravenclaw. Incluía-se também o próprio Harry, já que uma parte da instável alma de Voldemort prendeu-se a ele, dando-o algumas habilidades, como a ofidioglossia. Esse acontecimento transformou Harry na única pessoa que sobrevivera à Maldição da Morte, rendendo-lhe o título de "O Menino que Sobreviveu". O feitiço falho deixou uma cicatriz em forma de raio em sua testa, marcando-o como um igual de Voldemort. A cicatriz seria uma benção e uma maldição nos anos seguintes, pois abrira uma ligação telepática entre as mentes de Harry e de Voldemort, dando ao menino uma certa consciência dos pensamentos do inimigo.
Hagrid entregou Harry a Dumbledore na noite do dia 1 de novembro. Dumbledore deixou uma carta para os Dursley, explicando a situação, mas eles nunca a entregaram para Harry. Ao invés disso, fizeram o sobrinho passar a próxima década numa situação miserável, sem saber coisa alguma sobre o mundo bruxo. "A Harry Potter — O Menino que Sobreviveu."

Vida na Rua dos Alfeneirosedit | edit source

"Juramos quando o aceitamos que poríamos um fim nessa bobagem - disse tio Válter -, juramos que erradicaríamos isso nele. Bruxo, francamente!"
Harry começa a morar com os Dursley, e segundo o mesmo, morar naquela casa era a pior coisa no mundo. Como os tios de Harry eram trouxas, não possuíam qualquer entendimento de magia, e embora conhecessem a linhagem dele, não queriam ter nada a ver com ela. Os Dursley orgulhosamente se consideravam uma família "normal" e desprezavam qualquer coisa fora dos padrões da normalidade. Eles mentiram para Harry sobre a morte de seus pais, afirmando que eles haviam morrido em um acidente de carro. Diziam também que a cicatriz em forma de raio na testa de Harry (que era fruto da Maldição da Morte que falhou, que ele podia se lembrar vagamente em forma de um jorro de luz verde e uma risada alta e fria se 'forçasse sua memória'.) existia devido ao mesmo acidente. Ele tentou entender o que era e se vinha realmente do acidente, mas não conseguia, já que Válter e Petúnia o proibiam de fazer quaisquer perguntas, principalmente aquelas relacionadas aos seus pais. Além disso, os tios de Harry se recusavam a ter fotos de Lílian e Tiago na casa, e tentavam ao máximo evitar o assunto.
Eles repreendiam Harry por sua magia, que era esporádica, mas evidente. Eles desencorajavam fortemente qualquer tipo de imaginação. Os Dursley também abusavam mental e verbalmente de Harry (às vezes privando-o de comer) sempre que algo "estranho" ocorria. O modo como eles tratavam o sobrinho beirava a negligência, mas não chegou a ser reportado às autoridades. Em sua juventude, Harry podia fazer coisas estranhas acontecerem sem entender o porquê, e ninguém o disse que era bruxo. Uma vez, Petúnia raspou todo o bagunçado cabelo do menino, deixando-o quase completamente careca exceto por uma franja para esconder sua cicatriz, e todo o cabelo cresceu de volta na manhã seguinte, tão bagunçado quando antes. O garoto foi punido, mesmo não tendo feito nada. Outra vez, Dédalo Diggle curvou-se para ele numa loja, e Petúnia furiosamente o interrogou sobre como ele conhecia o homem.
Os Dursley mimavam seu filho Duda Dursley, e quase não prestavam atenção em Harry, sendo a pouca atenção negativa. Todas as suas roupas eram velhas, herdadas de Duda e muito largas para ele. Ele era obrigado a dormir no armário debaixo da escada, enquanto o primo tinha dois quartos (um para dormir e outro para guardar seus brinquedos). Eles faziam Harry fazer tarefas domésticas para eles, como fazer a comida. Duda maltratava o primo, e seus pais levavam ele e deu amigo Pedro Polkiss a lugares divertidos em todos os aniversários do filho, enquanto tudo o que Harry ganhava de aniversário eram meias velhas do tio.
Os Dursley escondiam a existência de Harry, não possuindo fotos dele na casa. Entre as poucas pessoas que sabiam dele estavam a amiga de Petúnia Ivone e a irmã de Válter Guida, que o menino era obrigado a reconhecê-la como tia apesar de não terem parentesco. Ao contrário do irmão, Guida demonstrava um forte desafeto pelo garoto quando visitava a Rua dos Alfeneiros. Exemplos disso são o aniversário de cinco anos de Duda, no qual a tia bateu em Harry para impedi-lo de ganhar de Duda em uma partida; feriados como o Natal, em que ela deu um robô computadorizado para o sobrinho e uma caixa de biscoitos de cachorro para Harry; e o décimo aniversário de Duda, quando Harry acidentalmente pisou na pata de seu cachorro Estripador, que o perseguiu até o jardim e o fez subir uma árvore, e Guida não fez Estripador parar até a meia-noite daquele dia.
Viver na casa dos Dursley, porém, era um mal necessário, pois, vivendo com a única parente viva de Lílian, a proteção que ela o deu na noite de sua morte persistiria. Enquanto ele pudesse encontrar ali um lar, ele não poderia ser ferido. Porém, a proteção se romperia quando ele completasse dezessete anos ou quando a casa dos Dursley não fosse mais seu lar.
Sem que Harry soubesse, uma de suas vizinhas, Arabella Figg, era um Aborto. Infelizmente para ele, para manter uma boa imagem com os Dursley, ela foi forçada por Dumbledore a ser extremamente chata com o garoto sempre que tinha que tomar conta dele, já que os Dursley nunca o deixariam ficar com ela se soubessem que ele estava se divertindo, uma possibilidade que os enfurecia. Harry descobria a conexão dela com o mundo mágico no verão antes de seu quinto ano na escola, enquanto ela o vigiava, cumprindo sua função de informar a Ordem da Fênix sobre seu bem-estar.
No dia 23 de junho de 1991, aniversário de onze anos de Duda, os Dursley foram ao zoológico com ele e seu amigo Pedro Polkiss. Infelizmente para eles, tiveram que levar Harry junto, já que a Sra. Figg havia quebrado a perna e eles não tinham onde deixá-lo e tampouco cogitavam deixar que ele ficasse sozinho em casa. No zoológico, Harry falou com uma jiboia brasileira e acidentalmente fez o vidro que a prendia sumir, assustando Duda. Ele usou a ofidioglossia com a cobra, que o agradeceu. Em casa, os enraivecidos Dursley o confinaram em seu armário.

Escola Primária St. Grogoryedit | edit source

"Na escola, Harry não tinha ninguém. Todos sabiam que a turma de Duda odiava aquele estranho Harry Potter com suas roupas velhas e folgadas e os óculos remendados, e ninguém gostava de contrariar a turma do Duda."
Harry frequentou a Escola Primária St. Grogory, uma escola trouxa, com Duda. Ele não tinha nenhum amigo, já que todos os alunos tinham medo da turma de Duda, que o odiava graças a ele. Os amigos de Duda até mesmo tinham uma brincadeira que consistia em perseguir Harry. Embora fosse bom em esportes, era sempre o último escolhido para um time; provavelmente porque ninguém queria admitir a Duda que gostavam de Harry e não porque este fosse ruim. Harry conseguiu notas, se não boas, decentes. Uma vez, ele fez a peruca de uma professora ficar azul acidentalmente, em outra, ele aparatou no terraço da escola enquanto fugia da turma de Duda. Se Harry não tivesse ido para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, ele teria frequentado uma escola secundária trouxa.

Descoberta de ser um bruxoedit | edit source

"Você é um bruxo, Harry. E vai ser um bruxo de primeira assim que tiver treinado um pouco."
Rúbeo Hagrid encontrando Harry pela primeira vez[fnt])
Harry não tivera nenhuma festa de aniversário até completar onze anos, o mesmo dia em que descobriu a verdade sobre quem era. Na semana do aniversário de Harry, centenas de cartas começaram a chegar na casa dos Dursley, endereçadas ao garoto e vindas de um local chamado Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Quando os Dursley viram que a carta estava destinada ao "armário debaixo das cartas" entraram em pânico com o pensamento de que seus maus tratos a Harry estavam sendo observados, e o transferiram para o segundo quarto de Duda, com medo de serem denunciados por abuso. Porém, as cartas continuaram a chegar, agora endereçadas ao "menor quarto".
Quando Válter viu a carta pela primeira vez, teve medo de que os bruxos estivessem tentando contatar Harry. Por isso, tentou inutilmente destruir as próximas cartas, para que Harry não pudesse lê-las. Contudo, as cartas continuaram chegando em quantidades cada vez maiores, até que dúzias delas atravessavam as janelas, portas e a lareira, e os Dursley não viam outra alternativa senão fugir delas. Mais uma vez, não foi o suficiente para barrar as corujas que continuavam chegando com cartas, e, no dia 30 de julho de 1991, desesperados, os Dursley fugiram para uma cabana numa pedregosa ilha no meio do oceano.
À meia-noite do dia 31 de julho, aniversário de Harry, Rúbeo Hagrid apareceu pessoalmente para descobrir porque ele não havia recebido sua carta. Ele ficou furioso quando descobriu tudo o que os Dursley fizeram com Harry, e, apesar dos protestos de Válter, contou a Harry que ele era um bruxo, como seus pais tinham morrido, que Dumbledore o havia mandado tirá-lo da casa destruída de seus pais, e que ele seria enviado à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Essa foi a primeira comemoração de aniversário de Harry, e Hagrid o deu um bolo de aniversário feito por ele, e mais tarde, uma coruja-das-neves, a qual o menino deu o nome de Edwiges, um nome que encontrou em seu livro de História da Magia. Hagrid levou o garoto ao Caldeirão Furado, onde ele percebeu que era famoso. Ele encontrou com Quirino Quirrell, seu futuro professor de Defesa Contra as Artes das Trevas; o estalajadeiro Tom, uma bruxa chamada Dóris Crockford; e Dédalo Diggle (o homem que curvara-se para Harry anos antes). Hagrid então o levou para o Beco Diagonal, onde ele aprendeu mais sobre sua fama no mundo mágico e que seus pais lhe deixaram uma pequena fortuna em um cofre no Gringotes, o banco bruxo.
Harry comprou sua primeira varinha naquele dia na loja de Olivaras. Ele testou várias até escolher a que queria, uma varinha de azevinho e pena de fênix, vinte e oito centímetros, boa e maleável. Mais tarde, descobre-se que a pena viera da fênix de Dumbledore, Fawkes, e que a varinha possuía uma gêmea, ou seja, outra com uma pena da mesma fênix, feita de teixo. A gêmea fora escolhida por Tom Riddle muito tempo atrás, que a utilizou para matar os pais de Harry. As duas varinhas possuíam uma conexão bem única, que as impediria de duelar uma contra a outra anos depois.

Anos em Hogwarts (1992-1997)edit | edit Dumbledore: "Harry, você sabe por que o Prof. Quirrell não suportou que você o tocasse? Foi por causa de sua mãe. Ela se sacrificou por você. E uma atitude como essa deixa uma marca... É uma marca que não pode ser vista. Ela está entranhada em você." Harry: "Que marca é?" Dumbledore: "Amor, Harry. Amor."

Alvo Dumbledore conversando com Harry[fnt])
Harry foi guiado pelo destino no dia 1 de setembro, quando os Dursley o deixaram na Estação King's Cross. Válter o ajudou a levar suas coisas à plataforma e saiu rindo, dizendo que a Plataforma Nove e Meia (ou Nove e Três Quartos, no filme) não tinha sido construída ainda, e deixou-o sozinho. Com apenas dez minutos restantes até o embarque, que era às onze da manhã, Harry entrou em pânico, sem saber onde estava a plataforma, até que entreouviu uma família de ruivos reclamando da estação cheia de trouxas, e notou que eles possuíam uma corujas entre seus pertences.
Harry viu garotos mais velhos atravessarem magicamente a parede entre as plataformas nove e dez. Nervoso, o garoto os interrompeu e foi apresentado ao filho mais novo Ronald Weasley ou simplesmente Rony, que também começava seu primeiro ano. Molly (mãe de Rony) gentilmente ensinou Harry a passar pela parede, e o garoto correu até ela, vendo o Expresso de Hogwarts pela primeira vez. Como quase todos os compartimentos estavam cheios, ele foi para um no fim do trem, e com ajuda da família de Rony, conseguiu embarcar.
Enquanto ajudavam, os gêmeos ruivos notaram a cicatriz na testa dele e o reconheceram como Harry Potter. Enquanto Harry se acomodava no compartimento, os irmãos Fred Weasley e Jorge Weasley reportaram sua descoberta à família, para o fascínio da caçula Gina e de seu irmão mais velho Percy, que era Monitor. Após o embarque, o trem subitamente partiu e Rony perguntou a Harry se poderia sentar com ele, que aceitou. Rony perguntou ao menino sobre sua cicatriz, que lhe mostrou, e então perguntou a Rony se toda a família dele era bruxa, que respondeu afirmativamente, à exceção de seu primo de segundo grau, que era contador. Quando uma funcionária passou vendendo lanches, HaRRY VENDO OS DOCES
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Ensaios sobre a Solidão e a Identidade

Primeiro ensaio: a infância
I
Eu tive a rara oportunidade de observar como uma criança desenvolve os primeiros sentimentos de amargura. Esse sentimento, visto abertamente em grupos, mas tão escondido nas pessoas, parece surgir do nada. Num momento não odiamos, noutro já somos avessos à cor, cabelos, palavras e lugares. É como ver uma poça secando, elas não evaporam até que tiremos os olhos. Não importa a paciência, é no segundo de distração que o fenômeno se completa.
Na época, eu era diretor e professor do colégio S**** e as turmas que mais me agradavam eram as dos alunos que estavam entre os onze e doze anos. Tinham acabado de terminar o ensino primário e mostravam renovação da vitalidade intelectual. Uma em especial, de crianças que até então haviam percorrido toda a vida escolar juntas, mostrava-se ainda mais animada, solidária e disciplinada, a 5ºB[1].
O líder dessa turma era Nícolas: um pequeno de expressões amassadas e finos cabelos loiros. Em qualquer lugar do mundo onde o loiro é comum, seria um garoto feio, mas aqui, nos trópicos, onde qualquer mecha amarela é sobrevalorizada, diziam que era bonitinho. Andava de peito estufado e queixo para cima, sempre procurando saber como estavam os colegas e resolvendo conflitos.
Para ilustrar sua maturidade e postura, veja esta passagem que aconteceu dias depois do início das aulas:
Entrei na sala e avistei Nícolas acalmando dois colegas, um deles tinha a camisa de uniforme rasgada.
Eu quis saber o que havia acontecido:
— Tio Mário! — era assim que me chamavam — não foi nada, já resolvemos tudo — disse-me Nícolas pedindo que os outros dois se calassem.
— Mesmo que já tenham resolvido, preciso saber o que aconteceu.
Nícolas deformou o rosto.
— Foi tudo por inveja — ele começou assim, me deixando assustado com tamanha maturidade — o Carlinhos trouxe pro colégio uma coisa e depois tentou impressionar os amigos. Vinícius, que é um pouco mais nervoso do que deveria ser, se enfureceu, então entraram numa briga rápida, mas te garanto, já estão em paz, tio Mário.
Nícolas lançou-lhes um olhar e logo os dois se abraçaram e sorriram.
— Por que seu uniforme está rasgado? — perguntei ao Carlinhos.
— É que... — tentou respondeu, mas de novo Nícolas tomou a palavra.
— Foi outro erro, um engano. Vinicíus usou força demais pra tentar tomar das mãos do Carlinhos a tal coisa, mas acabou errando a mira e isso aconteceu — apontou para o uniforme rasgado — não brigaram mais depois disso, não é verdade? — concordaram.
— Pois bem... — eu continuei — e que ‘coisa’ seria essa? Posso ver?
— Infelizmente não, Tio Mário — respondeu-me Nícolas categórico. Deixei escapar um sorriso diante da afronta — te garanto que a coisa já está comigo e não vai mais causar nenhum problema. Como eu disse: está tudo resolvido.
— Eu preciso saber o que é. Vamos, Carlinhos, abra a mochila.
— Já disse, Tio Mário, não está mais com ele, está comigo, dentro da minha mochila — fez questão de ser enfático — as regras do colégio dizem que os professor não podem mexer nas nossas mochilas, a não ser que saibam de alguma coisa ilegal.
— Justamente, sei que a coisa está na sua mochila, então faça o favor de abri-la, vamos.
— Mas eu nunca disse que a coisa é ilegal.
— É verdade — sussurrou uma garota nos fundos.
— Me desculpa, Tio Mário, mas não vou abrir a mochila.
Nunca fui conhecido como um diretor disciplinador e, de qualquer forma, não me achava no direito de quebrar aquela lógica. Eu estava orgulhoso, havia me derrotado, portanto eu deveria agir de acordo.
— Se é assim... — disse virando-me para o quadro. Senti que comemoravam silenciosamente e ovacionavam Nícolas aos gritos surdos.
Naquele mesmo dia, à noite, Nícolas tocou a campanhia do meu apartamento. Morávamos no mesmo prédio.
Ele tinha um daqueles videogames portáteis nas mãos, da marca Nintendo. Muito sério, me pediu desculpas:
— Nunca quis desafiá-lo, Tio Mário, mas eu precisava proteger meus colegas. Hoje, depois de chegar da escola me senti mal te escondendo a coisa, aqui está.
Videogames eram proibidos no colégio, claro, mas não dei continuidade. Só pedi que me dissesse a verdade sobre a briga, o que realmente tinha acontecido, deixando claro que não tocaria mais no assunto.
— É muito importante não dar atenção a essas coisas, elas podem crescer — ele disse como se estivesse me ensinando um conhecimento raríssimo — Vinícius e Carlinhos nunca se deram bem, isso porque o Carlinhos é o mais rico da turma e o Vinícius o mais pobre. É o que eu disse, a inveja. Só que não é só do Vinícius, porque se fosse, eles não brigariam. O problema é que o Carlinhos sente inveja do Vinícius por causa da Maria do Banheiro.
— Maria do Banheiro?
— Sim. Ano passado alguém contou que havia um jeito de chamar um espírito no banheiro do colégio. Tínhamos que apagar as luzes, dar três descasgas e chamar, olhando o espelho ‘Maria do Banheiro’, ‘Maria do Banheiro’, ‘Maria do Banheiro’, três vezes. Se fizéssemos certo, ela apareceria.
— O Vinícius fez isso?
— Todos fizemos, quase a turma inteira, algumas garotas não tiveram coragem, mas nos enfiamos no banheiro quase todos no intervalo — ele continuou — eu mesmo apertei as descargas e depois a Raquel chamou o espírito no espelho do banheiro, foi então que... escutamos um estrondo, não sei dizer o que era. Claro que todos nós corremos, mas o Vinícius não. Ele ficou lá, acredita? E ele jura que viu o vulto da Maria do Banheiro. Desde então ele é o mais corajoso da turma. Já o Carlinhos... foi o único dos garotos que não teve coragem de entrar no banheiro.
— Então os garotos ficaram pegando no pé dele?
— Não precisou. Quando esse tipo de coisa acontece, nem precisa pegar no pé pra pessoa ficar ofendida e ressentida. Todos nós, os garotos, ficamos falando sobre nossos susto e como foi dar as descargas e o clima do banheiro antes do estrondo da Maria do Banheiro. Só falávamos disso durante umas duas semanas, mas Carlinhos não tinha como participar, entende? Por duas semanas ele não era mais da turma e criou raiva do Vinícius, que era sempre exaltado — ele fixou os olhos num ponto, como se pensasse — pra falar a verdade, depois daquelas duas semanas, parece que Carlinhos mudou muito, ficou diferente e nunca mais voltou a ser da turma como antes.
A voz da mãe de Nícolas explodiu nas escadas dizendo que o jantar estava pronto. Pedi que ele me avisasse caso Carlinho e Vinícius brigassem de novo e deixei que fosse embora.
Observei o desenrolar daquela história e vi com nitidez o esforço de Nícolas para aproximar Carlinhos da 5ºB de novo. Apesar das sucessivas investidas, convites para jogos e projetos, Carlinhos se distanciava cada vez mais da turma e encontrava companhia num grupo de cinco garotos da 5ºA. Passavam os intervalos juntos no quiosque do pátio trocando cartas de Pokemon. Mesmo que as coisas tenham se saído assim, o semestre desenrolou-se sem mais conflitos.
II
Durante as férias, tive uma ideia e de antemão digo que foi péssima.
Na contramão da 5ºB, tínhamos no colégio uma das piores turmas com a qual já havíamos trabalhado: a 5ºA. Os pequenos, quase todos desconhecidos uns dos outros antes do primeiro dia de aula, haviam entrado num clima contagiante de violência e dedicavam a maior parte do tempo brigando por poder.
Como é comum entre as meninas, os conflitos se davam à base de difamações, roubos e depredações. O motivo era sempre o mesmo: tinham aversão à personalidades, interesses ou belezas diferentes.
Já entre os meninos a situação era ainda mais preocupante. Esses, divididos precocemente entre as torcidas de dois times de futebol, trocavam socos, organizavam emboscadas e aliciavam os raros alunos que queriam ficar de fora daquela insanidade.
Presenciei uma cena horripilante: estava descendo as escadas das salas de aula para o pátio dos alunos do Ensino Médio, quando vi as mãos de um garoto entre as grandes que dividiam os alunos pequenos dos adolescentes. Ele se esticava todo tentando entrar de qualquer maneira, se enfiando desesperado entre as hastes de ferro e suplicando pelo irmão mais velho. Eu e todos os adolescentes ficamos imóveis, sem saber o que estava acontecendo. Por que havia uma criança explodindo em lágrimas como se estivesse alucinada?
Em instantes, um outro pequeno, corpulento, surgiu correndo como um rinocerante e trombou contra ele, ombro contra ombro. Infelizmente ele estava com o braço direito entre as grades, implorando pelo irmão, de modo que o violento impacto partiu os seus ossos na altura do cotovelo. O pequeno urrou ainda mais alto, um grito de dor excruciante.
— Ítalo! — gritou seu irmão correndo para socorrê-lo — O portão! Abram!
Eu tinha as chaves, então corri e socorri o pequeno. No caminho ao hospital, ele me disse:
— Foi uma emboscada, Tio Mário, mas quando eu voltar, ele vai ver!
Não dormi aquela noite, o que havia se tornado a 5ºA?
O pequeno agressor, o rinoceronte, foi expulso do colégio, mas isso só deixou a violência pior, cada lado sempre buscava motivos para retaliação. A expulsão de um aliado era razão de sobra para mais agressões.
Foi então, nas férias, que tive a ideia:
A 5ºB tinha resultados excelentes, eram disparados os melhores alunos. Além disso, como já disse: eram solidários, disciplinados e curiosos. Todos os professores tinham imenso prazer em dar aulas ali. Claro que isso era fruto de anos de convivência, mas também já havia visto muitas turmas que cresceram juntas e nenhuma delas tinha o mesmo desempenho. Dessa forma, para mim, aquela turma só era aquela turma por causa do Nícolas.
Decidi, então, transferir Nícolas para a 5ºA. Tinha esperança que sua maturidade e genialidade me ajudassem a controlar os pequenos corrompidos.
Eu mesmo fui informá-lo, bem como aos seus pais, em sua casa. Sentados na sala, contei a eles que planejava a transferência de Nícolas, mas não expus o real motivo. Usei como justificativa o crescimento dele diante de novas pessoas, jurei estar preocupado com o seu desenvolvimento tendo em vista a zona de conforto do convívio com os mesmos colegas ali, ano após ano.
— Mas o Nícolas se dá tão bem com eles e nós também já conhecemos todos! — disse a mãe.
— Eu entendo, mas não seria melhor para ele aprender a conviver com garotos diferentes? Sabem, não faço essa proposta para todos os alunos, só para o Nícolas, já que ele é o mais brilhante da turma inteira. Mas fico receoso apenas com esse detalhe na sua formação, e se no futuro, quando for obrigado a se separar dos amigos não conseguir conviver com mais ninguém? E se ficar perdido? Já vi isso acontecer antes, crianças acostumadas a sempre ter as mesmas companhias, quando mudam de escola ou cidade se tornam depressivas e improdutivas. Não seria melhor já nos precavermos? Tudo seria feito, claro, sob minha supervisão.
Durante todo tempo em que conversamos Nícolas não abriu a boca. Finalmente, quando a mãe disse que ainda precisava pensar, ele declarou:
— Quero mudar de turma — isso bastou para que tudo se resolvesse.
Fiquei curioso sobre os motivos da sua decisão, mas foi só mais tarde que tive a resposta.
III
Na 5ºA existia uma pirralha de cabelos ralos vermelhos e olhos fundo. Me dou a liberdade de chamá-la assim, pirralha, por causa dos prejuízos que essa pequena já me causou. Não só a mim... não só a mim. Eu escutava seu nome dia sim, dia não no escritório, era sempre alguém alguém segurando o choro por causa de uma humilhação sofrida. Como estou apresentando meu alunos e as figuras principais desse estudo sobre o início da amargura e da solidão, vamos a mais uma. Um episódio envolvendo Camilla.
Na frente do colégio existia uma barraquinha onde vendiam lanches e sorvetes. Era lá que os alunos se juntavam no crepúsculo, depois das aulas de educação física. Se no colégio acumulavam poder, era lá que o usavam, era o espaço onde a demonstração de dominância se tornava mais óbvia, onde os líderes se pavoneavam e as regras do colégio eram deliberadamente quebradas satisfazendo-os a sede de liberdade.
Eu já ia embora, despedia-me do segurança que girava a chave na fechadura quando uma pequena veio correndo em minha direção, pálida e prestes a chorar.
— Preciso entrar no colégio.
— Esqueceu alguma coisa?
— Não, minha mãe só pode me buscar mais tarde e não posso ficar aqui, tenho que entrar no colégio.
Ela levava a mochila presa aos dedos nas costas, balançando ao longo das pernas e batendo contra os tornozelos sempre que andava.
— Mas... não é ali que sua mãe sempre te pega? — apontei para a lanchonete.
Nesse momento, vi a Camilla, ela olhava para a cena em que eu era um dos atores e compartilhava com as amigas uma risada de satisfação.
— Vamos, pode me contar... o que está acontecendo?
— É que... eu sujei minha calça. Tô menstruada. Não posso ficar lá com todo mundo, ainda mais porque a Camilla viu e contou pra todo mundo.
Perdi o compasso da respiração, que pirralha!
— Isso acontece, quanto tempo sua mãe demora?
— Uns vinte minutos.
— Espero com você.
Pedi que o segurança abrisse o colégio de novo, entramos e nos sentados nos primeiros bancos, com vista para a rua. Os cabelinhos ruivas da Camilla haviam se tornado um risco vermelho do outro lado da rua.
— Sempre deixamos alguns absorventes na administração para o caso das alunas esquecerem.
— Não esqueci.
— Ah sim, só... esqueceu de...
— Também não — ela baixou a cabeça — olha, se eu contar promete que não faz nada?
— Fazer nada?
— É, não vai dar uma de diretor.
— Não posso prometer deixar de ser diretor da escola, Luana.
— Então deixa.
— O que a Camilla fez agora?
Ela arregalou os olhos.
— Como sabe?
— Só um palpite.
— Ela sabia que eu tava menstruada e roubou meu absorvente. Quando fui trocar não tinha mais, daí arrisquei ficar sem e deu no que deu. Ela ficou me olhando ainda, só esperando pra ver se ia vazar. Fez isso porque eu fiz uma piada com ela ontem, tenho certeza. Mas você não pode fazer nada, não vai chegar nela e perguntar se ela roubou meu absorvente. Se ela souber que eu dedurei, vai fazer da minha vida um inferno. Acho que ela vai parar por aqui, só isso e pronto, graças a Deus.
Alguns minutos depois um carro sedan parou do outro lado da rua, em frente à lanchonete. Luana me avisou que era a mãe, então saímos do colégio. Fiquei a meia distância vendo-a ir com a mochila batendo contra os tornozelos até o carro. Na lanchonete, Camilla levantou-se com um absorvente nas mãos.
— Luana, aqui! — gritou vocalizando em direção à mãe dela, que aguçou os ouvidos para entender o que estava acontecendo — não sabe o que aconteceu! — disse Camilla à mulher — os outros avermelhavam-se contendo o riso — ela se sujou, esqueceu de trocar o absorvente.
Luana parou no meio do caminho. Sua mãe, ainda confusa, desceu do carro e a encontrou ali, estática.
— Deixa eu ver — disse a mulher.
— O quê?
— Deixa eu ver a mancha.
— Por favor... não.
A mulher a agarrou nos ombros e a virou, depois curvou-se ajeitando o ângulo para fazer sua valiação. Os pequenas na lanchonete amontoavam-se curiosos para ver algo parecido como o mapa do Brasil em vermelho morto entre as pernas da garota.
— Vamos precisar de uns guardanapos, pega lá pra gente — a mulher disse a Luana.
— Eu pego! — respondeu Camilla entregando um maço de folhas brancas.
— Obrigada. Você não achou que ia entrar no meu carro desse jeito, não é? Coloca no banco — entregou as folhas à Luana.
Foram embora e eu fiquei ali por mais dois minutos olhando aqueles pequenos da 5ºA. Me notavam, claro, mas fingiam que não. Ali tinham liberdade, a liberdade de fazer esse tipo de coisa. A liberdade da humilhação, da coerção e da agressão. A liberdade de concentrar o poder e destruir a própria liberdade.
O maior erro do meu plano foi não ter investigado direito o que se passava no coração de Nícolas. Seu desejo de mudar para a 5ºA residia somente no fato de que ele havia se apaixonado por Camilla. Foi tarde que descobri isso.
IV
Nícolas está morto, suicidou-se aos vinte de dois anos. Não saiu nos jornais, tive notícias da famílias, que já não eram meus vizinhos, só um mês depois, mas eu já sabia. No dia de sua morte recebi um email, nele Nícolas me explicava o que já havia feito e me entregava seu diário. Estava escrito assim:
“Tio Mário, lembra quando eu te chamava assim? Faz tempo, mas eu ainda me lembro, principalmente do ano em que estava na 5º série. Foi um ano especial, num semestre eu tinha algo e no outro não. Acho que cometemos um erro, nós dois. Mais eu do que você, claro, sempre tive a escolha, mas é que você também me deu um espaço, sabe, se não tivesse dado, tudo não teria acontecido.
Não quero colocar a culpa em você, mas é inevitável, principalmente depois que descobri o plano de me usar para salvar aquela turma, que ilusão, só o que conseguiu foi fazer eu me perder. Eu tinha o que as pessoas buscam desde que se entendem por gente, a coletividade individual, um grupo que me tirava da solidão, mas que era tão integrado e diferente de todos os outros que me dava a identidade. Tínhamos a identidade coletiva, tio Mário, uma condição transcendental que muitos acham que não passa de uma fantasia. Claro que é uma fantasia, só pode existir se a individualidade ainda não tiver nascido.
Eu fui e deixei meu paraíso por amor, a ideia de amor, o desejo, que seja! Acho que uma criança aos doze anos sente desejos, não sente? Pode não ser os mesmos que nós, os adultos, sentimos, mas ainda assim... E o senhor, qual a sua justificativa? A ignorância, tenho certeza. Não sabia o que ia acontecer, achou mesmo que eu poderia mudar a mente de trinta crianças que nunca haviam conhecido nada fora delas mesmas, que entendiam a associação como domínio.
Fui quebrado para sempre, uma mudança na sintonia das ondas e eu nunca mais consegui me conectar aos antigos amigos, havia experimentado o que era ser um indivíduo. Eles mesmos foram distorcidos com a minha ausência, você estava certo sobre meu papel direcionador, sem mim o grupo se desfez e viramos todos... humanos.
Com a solidão seria possível conviver, todos convivem, mas o problema que se tornou insustentável foi a amargura. Eu já conheci o que é ter os dois mundo: a identidade na coletividade ou a coletividade sem a ideia de identidade. Então não é possível continuar.
Tudo já está feito, provavelmente há três dias. Já estou enterrado, por favor não procure meus pais, será inútil.
Segue em anexo uma fração do meu diário que mantive durante minha mudança para a 5ºA, talvez possa te servir.”
Lendo o email, lembrei-me de uma das últimas vezes em que vi Nícolas, anos depois dele ser transferido de colégio por causa de um evento trágico que irei narrar um pouco mais adiante. Ele me procurou em meu apartamento, ainda éramos vizinhos, estava já bem diferente do que costumava ser, melancólico e conversava sem conseguir me olhar nos olhos como fazia antes. Tinha dezoito anos.
Ele me disse que havia entendido todos os problemas do mundo.
— Todos os problemas do mundo podem ser resumidos a duas forças, eu acho — disse na soleira, como se estivesse só passando para entregar uma mensagem — a identidade e a solidão. Quanto mais as pessoas procuram pela identidade, mais solitárias ficam e quanto mais elas elas procuram se livrar d solidão, mais perdem a identidade e desintegram o ser. Então não existe apenas um tipo de angústia, como disseram alguns filósofos, existem dois tipos e é por isso que ela está sempre lá. Se fosse só um tipo, poderíamos trabalhar para saná-la, mas não, são dois, uma contrária a outra. Isso é lógico — eu estava me esforçando para entender aquele monólogo repentino — como eu disse, todos os problemas do mundo podem ser entendidos assim, descobri isso na 5ºA e depois de pensar muito sobre o que aconteceu. Lembra da 5ºA? Eu lembro.
— Espera um segundo, entra, vamos nos sentar. Não estou conseguindo me concentrar assim.
Ainda de cabeça baixa ele se sentou sobre as almofadas do sofá e aceitou um copo com água. Parecia nervoso, balançava-se.
— Estou com pressa, só preciso te dizer isso. Tenho que ir. Quero te dizer dos problemas do mundo.
— Sim, pode falar.
— Vi na televisão um político que foi preso por corrupção. O jornal disse que ele já era muito rico, mas que mesmo assim continuava a elaborar esquemas de corrupção. Tentaram fazer uma estudo sobre a cabeça de pessoas que agem assim, mas erraram. Disseram que o poder vicia e que por isso esse tipo de coisa acontece. Não, estão errados, não entenderam as duas angústias.
— E você sabe explicar isso melhor? — perguntei tentando direcioná-lo, ele parecia que ia se perder a qualquer momento.
— Sim, consigo, é bem simples se entender as angústias. Ele é rico e poderoso, então está inserido entre semelhantes ricos e poderosos, esse é o grupo dele, o que vai tirar ele da solidão, o que resolve a primeira angústia. Mas ele também precisa resolver a segunda angústia, a da identidade. É ela que o instiga a ficar sempre mais rico e mais poderoso. Se o político corrupto ficar pobre, perderá o grupo e cairá na solidão, se ele não se destacar na riqueza e no poder, que é o modo de reconhecimento do seu grupo, ele perderá a identidade e será só mais um, então ele faz de tudo pra sanar a segunda angústia. É o que acontece também nas universidades, onde dizem que é um espaço de vaidade. Não tem nada a ver com vaidade, tem a ver com angústia. Como acreditam que todos os professores teriam propensão ao orgulho? Essa não é uma característica universal, as angústias sim. Nas universidades os acadêmicos fazem parte de um grupo, mas precisam se destacar, como o político corrupto. A diferença é que o destaque aqui é por meio do conhecimento, daí surge o que os outros entendem como vaidade. É por isso também que os acadêmicos não estão nem aí pro povo comum, pros jornalistas e pra qualquer outra pessoa fora dos seus grupos. Todo mundo quer se destacar para os semelhantes, porque o objetivo não é reconhecimento. O reconhecimento é só o meio pro fim, que é a satisfação da angústia da identidade, é não perder a si mesmo. Existe um jeito de perceber a angústia da identidade sendo rapidamente escoada do corpo, basta viajar. Quem sai da sua cidade natal e vai pra outro país, por exemplo, se vê livre da angústia da identidade, mas isso também não é solução, porque aos poucos a angústia da solidão cresce a pessoa se vê desesperada. Tudo... tudo pode ser explicado por essas duas angústias, professor. Cada irracionalidade que não conseguimos compreender, cada fenômeno social....
Depois de terminar, não escutou minhas considerações, levantou-se e foi embora. Durante dias fiquei digerindo tudo aquilo. Acho que Nícolas tinha razão. Lendo sua história na 5ºA consegui compreender ainda melhor o que ele quis dizer.
V
Agora chegou a hora de descrever o que aconteceu com Nícolas durante os três meses em que esteve na 5ºA.
Ele entrou na turma de pirralhos empolgado com o plano de conquistar Camilla, durante as duas primeiras semanas em seu diário, não havia outra coisa. Ele descrevia tudo o que ela fazia e achava cada uma das coisas o máximo. Ainda não tinha notado as violentas diferenças que existiam entre o antigo grupo e o novo. Na verdade, estudava com a 5º A durante as aulas, mas passava os intervalos e as tardes com os amigos da 5º B falando sobre como era bom estar próximo do seu amor. Na terceira semana, entretanto, ele pareceu notar algo e, incrivelmente, seu primeira tristeza não aconteceu entre os pirralhos, mas sim entre os amigos.
Nícolas descreveu uma cena que representa o rompimento do que chamou no seu email de coletividade individual.
Em um intervalo, como de costume, foi até a sala da 5ºB, chegando lá encontrou os pequenos concentrados num trabalho de geografia.
— Não, não foi isso que o professor perguntou — disse Vinícius — ele perguntou por que os países devem crescer e você está respondendo o porquê dos países investirem em educação e saúde.
— Mas é a mesma coisa! — disse irritada uma garota.
— Não é a mesma coisa.
Nícolas entrou no meio da discussão.
— Tivemos o mesmo trabalho — ele disse confiante — mas não tivemos tantos problemas. Os países precisam crescer para não ficarem para trás, quem não cresce, obviamente diminui, certo? Na verdade, só eu respondi, os meus colegas da A não gostam de participar dos trabalhos.
— Não, não é isso. O professor explicou isso que está falando — disse Vinícius — é que surgiu uma polêmica... é difícil explicar.
— Escuta aqui, é a mesma coisa...
— Qual foi a polêmica? — perguntou Nícolas.
Todos falaram ao mesmo tempo.
— Assim não consigo entender, um de cada vez, por favor.
— Ah, esquece, você não precisa saber, Nícolas. É coisa nossa — disse a garota.
Nícola descreveu-se subitamente arrepiado. Em seu relato disse que olhou espantado para Vinícius e suplicou mudo para que ele respirasse fundo e mudasse aquela situação, que parasse tudo que estava fazendo e o puxasse de novo para o grupo explicando-o a polêmica.
— É complicado — respondeu Vinícius ignorando-o e voltando à discussão.
Todos da turma estavam fechados numa roda e cada um discutia com seu par, como se houvesse uma organização perfeita de discordâncias. Nícolas, por outro lado, estava de fora procurando um espaço onde pudesse se encaixar ou um olhar convidativo.
Lendo o diário lembrei-me desse dia, fui eu o professor que entrou na 5ºB depois do intervalo e o vi ali, como uma criança sem voz no jantar dos adultos. Para piorar, disse ainda:
— Vamos, Nícolas, volte para sua sala.
Nessa época estava insatisfeito que ele ainda passasse os intervalos ali, achava crucial a dedicação total aos pirralhos para sucesso do plano.
Ele nunca mais entrou na 5ºB depois desse dia.
Depois de um mês na turma, Nícolas começou a relatar episódios de perseguição. Um nome aparecia com frequência no diário: Pedro, o líder de um quarteto perverso que entre outras coisas praticava assédio e vandalismo.
Num primeiro momento, Nícolas foi vítima de cuspe. Aparentemente eles escarragam na mão e depois passavam em sua nuca, isso nos intervalos ou nas aulas. Se me lembro bem, tinham um nome para isso, mas nem eu e nem Nícolas conseguimos recordar. “Era como um forma de comunicação, já que não faziam só comigo, praticavam esse gesto nojento entre eles. Talvez, a esta altura, estivessem só curiosos sobre mim, dependendo da forma como agisse, poderiam até mesmo ser convidado para integrar o grupo”, escreveu o pequeno gênio.
Nícolas, entretanto, tomou a pior atitude possível, ignorou-os e a laconicidade foi interpretada como agressão. Depois de dias, o convite singular deu lugar à brincadeiras ainda mais enfáticas de dominação. Sempre que se ausentava, o pequeno era surpeendido pelo sumiço dos materiais. Ignorar já não era uma opção, agora precisava se humilhar rastejando-se debaixo das carteiras por minutos para encontrar os livros. Todas as semanas isso se repetia e enquanto acostumava-se com a degradação, passava a estudá-la reparando que só ouvia quatro risadas, de Pedro e os outros três. O restante aguardava com aflição o término da cena.
A 5ºA parecia ter selecionado um líder. Claro que não como Nícolas foi da turma anterior, nada parecido com isso. Pedro dominava pelo medo e tinha opositores tão violentos quanto ele, amargurados por não poderem ser eles mesmos os opressores. Se não riam nada tinha a ver com a falta de graça, mas sim porque queriam que fossem eles os humilhantes. “Na época eu achava ótimo que Camilla não dava risadas de mim. Fantasiava um dia em que ela me falaria sobre tudo aquilo, como era ridículo e como eu agia certo ignorando as perseguições. Fui idiota, hoje sei disso, ela achava sim graça, mas não ria em parte porque tinha medo do Pedro e em parte porque lamentava não ser ela quem havia pregado a peça. Descobri isso quando tomei coragem num intervalo e fui dedicá-la pela primeira vez um comentário. Aproveitei que estava sozinha e com a confiança que me foi concedida por natureza — e depois quebrada pela sorte — disse que Pedro era um problema e que precisávamos discutir sobre o que fazer. Nessa hora ela riu e confesso que fiquei sem entender se eu tinha sido engraçado ou se a ideia havia sido tão bem recebida para alegrá-la daquele modo. Descobri algo sobre mim nesse dia: podia ser muito burro. Camilla não respondeu, afastou-se. No dia seguinte meus materiais sumiram de novo e dessa vez havia sido ela quem os escondera. Meu comentário deu a ela o direito de me humilhar. Obviamente esse direito não havia sido concedido por mim, mas por Pedro, que ficou sabendo e a permitiu tomar a posição do quinto carrasco.”
Nícolas continua a história revelando outro evento humilhante. Lembro-me muito bem desse dia e de novo agi errado.
Provavelmente alguém da antiga turma havia espalhado a paixão que Nícolas sentia por Camilla. Por causa disso, às sete horas em ponto, ele entrou no meu escritório com o rosto deformado, segurando como podia o choro. De imediato reparei que na bochecha esquerda existia a figura de um coração enjaulando as letras ‘N’ e ‘C’. Era bem evidente também as manchas avermelhadas ao longo de todo braço. Tinha experiência suficiente para entender o que havia acontecido antes mesmo que ele abrisse a boca: os delinquentes o seguraram e marcaram seu rosto com a caneta.
Para mim, na época, aquilo não passava de uma fase de transição, algo que com certeza ele teria que lidar antes que tomasse as rédeas e consertasse os pequenos demônios. Então fiz de tudo para lidar da melhor forma possível, bem, não da melhor, mas de um jeito passivo, que não prejudicasse a imagem de Nícolas. Tinha para mim que se punisse os agressores, dificultaria todo o plano.
— Esse tipo de comportamento é normal, crianças fazem esse tipo de coisa — ainda consigo me enxergar sendo patético.
“Saí do escritório transtornado”, ele escreveu no diário relembrando o dia. Sim, eu tinha notado, Nícolas.
Peguei Camilla matando aula, sentada sozinha no quiosque com o rosto também marcado pelo coração. Pedro não a havia poupado e de acordo com Nícolas isso só fez aumentar o ódio dela por ele. “Me odiava, evitava me olhar e sempre mantinha distância. As perseguições de antes cessaram, depois do coração tudo que ela queria era distância, não ser associada de forma alguma a mim. Mas ela canalizava seu ódio em outras pessoas, principalmente nas outras garotas. Chegou ao ponto de grudar chiclete nos cabelos de uma menina tímida que se sentava na primeira fileira, no outro dia ela chegou com os cabelos curtos e foi chamada de menino pela turma inteira. Dois dias depois deixou o colégio, não me lembro do nome dela.”
Um dia a professora de história fez uma pergunta ao Pedro e ele não soube responder, então começou a fazer piadas. Nícolas, impaciente, deu a respota, obviamente certa. No intervalo entre as aulas foi agredido. De novo foi segurado e recebeu um tapa no rosto, uma das unhas raspou em seu olho direito. Dessa forma, ele se apresentou mais uma vez — a última, por sinal — em meu escritório com um dos hemisférios oculares pintado por fibras vermelhas.
— Quero voltar.
Dessa vez não tinha vontade de chorar, estava repleto de ódio. Gostei do que vi.
— Não pode — disse e depois inventei uma justificativa igualmente patética, igual a todas as outras.
Ele foi obrigado a voltar para sala. Depois de um mês, aconteceu o evento trágico que o marcou por toda vida.
VI
Como eu disse, existiam na 5ºA alguns alunos que não participavam das brigas de gangues e eles eram a escória em termos de poder . Conviviam diariamente com as perseguições e rezevam para que o colega do lado fosse a vítima da semana. Suas vidas no colégio era uma constante vigília e um jogo político exaustivo para não chamar atenção.
Eram três os principais neutros e os que mais sofriam.
O primeiro dele era Rafael, um pequeno que havia sido criado por pais surdo-mudo e por isso tinha dificuldades na fala. Até ir ao colégio havia tido raro contato com a língua, depois só falava durante as aulas e, mesmo assim, se fortemente provocado pelos professores. Sua concepção de sociabilidade era singular sendo bem mais gentil que a maioria dos garotos da sua idade, fruto, naturalmente, de um lar que convive com a deficiência. Sempre que o professor ia dizer seu nome na chamada, Pedro gritava do fundo:
— Rafardado!
Depois riam quando ele respondia:
— Presente!
O segundo pequeno, Heitor, era doente. Quando foi matricula-lo no colégio sua mãe me explicou que tinha problemas hormonais e por isso mesmo com uma dieta rigorosa se mantinha acima do peso. Além disso tinha problemas para respirar, assistia às aulas com um aparelho de plástico entre as narinas. Se o tirasse, ficava sem fôlego e em segundos a respiração começava a arranhar. Era uma presa fácil. Quando Pedro viu aquele objeto diferente dentro do seu nariz, sua mente maligna logo pensou numa brincadeira: tirar e ver o que acontece. Fez isso na primeira semana de aula e depois gritou alegre:
— Ele ronca! É um porco! — aquilo virou um hábito.
A terceira pequena era uma garota negra e pequena, se chamava Paula. Desde a primeia vez que a vi, tinha acima dos lábios três fios bem finos e bem negros. Ela nem se dava conta deles até que os garotos começaram a chamá-la de macaca. Costumavam desenhar bigodes nas fotos dos livros e depois escreviam em forma de legenda, ‘Paula’. Essa sofria especialmente na mão de Camilla, que não desperdiçava uma oportunidade de humilhação. Como quando a prenderam dentro das grandes de um container que estava no pátio esperando ser recolhido e Camilla gritou que os circo estava no escola e tinha trazido consigo o macaco mais feio da África.
Nícolas observava todas essas todo o sofrimento desses pequenos e sabia que o único jeito de vencerem Pedro era pelo união. Mas ele estava mudado, não era o mesmo que pregava o amor na turma anterior, havia crescido nele o desejo de vingança. Foi assim que ele interpretou seu ânimo naquele momento:
“A fome da alma, é assim que Camus descreveu só aos vinte de dois anos a angústia da solidão. No conto, seu personagem vaga sozinho pelas ruas de praga tendo dentro de peito aquele tremor de quem se encontra desabrigado, numa terra de estranhos, enfim, um estrageiro. Era assim que eu me sentia naquele momento, ia ao colégio sentindo meu peito tremer, não havia com quem conversar, não era entendido, não tinha mais ninguém. Aos poucos a minha covardia chegou para o lado dividindo o espaço com a ferocidade.
Antes de dormir, não fantasiava mais as histórias de amor com Camilla ou meu futuro como um adolescente bem-sucedido, bonito e inteligente. Gostava de pensar em sangue e passei em claros muitas noites empolgado com ideia de fazer Pedro sofrer das mais diversas maneiras. É assustador pensar que tinha somente doze anos e conseguia imaginar tantas crueldades. Durante muitos dias pensando em como fazer isso, cheguei à conclusão que precisava de aliados. Esse sempre tinha sido a minha força, então bastava colocá-la em prática.
Pensando hoje sobre isso percebi que tinha mudado. Sem que percebesse, a moral de violência daquela turma havia se fixado em mim e eu fantasiava era com a ascensão dentro daquele sistema perverso. O tremor de ser o estrangeiro havia passado, eu sabia o que encontraria ali, todos já me conheciam e mesmo na solidão, havia, pelo menos, compreensão. Agora eu precisava da identidade, porque não era uma configuração sagrada como a que tinha, ali eu precisava subir, sobretudo por causa de minha natureza orgulhosa.
Passei um mês inteiro tentando convencer os oprimidos como eu a se juntarem a mim. Foi difícil aceitar quando eles recusaram. Rafael, Paula e Heitor, todos eles sofriam diariamente, mas me disseram categoricamente que não tinham qualquer intenção de lutar.
Paula me disse que sabia que não era uma macaca e que por isso nao se importava quando a chamavam daquele modo. Disse ainda que odiava a todos naquela escola, de tal forma que fingia estar sozinha quando estava lá dentro e sempre quando ia embora se alegrava vendo a mãe que tanto amava. Heitor jurou que não iria morrer sem o aparelho, que ele só servia para ‘facilitar’ a respiração e não me disse mais nada. Rafael assustou-se violentamente quando falei sobre vingança e não quis mais ficar perto de mim.
Fui tomado pelo ódio, xinguei os covardes e fiz sozinhos meus próprios planos. Deveria ter pensado mais. Porque aqueles que era tão perseguidos quanto eu não buscavam vingança? Qual era a diferença? Resignação, talvez. Confesso que ainda não sei, mas me arrependo do que fiz. Passei anos curioso sobre a sensação do que tinha causado, acho que esse é meu último desejo, conhecer pelo que ele passou.”
Nícolas, numa tarde de educação física, levou a arma de um tio para o colégio e estourou o crânio de Pedro. Passou os anos seguintes em instituições do governo, sua família se mudou eventualmente e bem... ele realizou o desejo de conhecer aquilo que causou.
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Como Edward Feser e David Bentley Hart mudaram minha opinião sobre Deus, Tradução Artigo

Como Edward Feser e David Bentley Hart mudaram minha opinião sobre Deus, Tradução Artigo

Como Edward Feser e David Bentley Hart mudaram minha opinião sobre Deus

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Tradução de um texto de Gore Burnelli em https://medium.com/@gore.burnelli/how-i-changed-my-mind-about-god-8db274faedf5
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Este é o quinto post de uma série que detalha meus pensamentos em evolução sobre religião. Os primeiros são:
1-Por que não sou mais um “Novo Ateu”
2-Como Nassim Taleb mudou minha opinião sobre religião
3-Como Richard Feynman mudou minha opinião sobre o Cristianismo
4-Por que abandonei a mitologia do Iluminismo. O Iluminismo como um mito de Criação
Aqui, quero abordar um dos tópicos mais difíceis: Deus.
Conforme detalhado nos outros posts da série, fui um ateu militante por cerca de uma década. Eu tinha certeza de que sabia tudo o que há de relevante para saber sobre o assunto e que nada poderia me surpreender. Passei centenas, senão milhares de horas participando e assistindo a debates sobre esse assunto. Achei que os argumentos apresentados a favor de Deus não eram nada convincentes e me deleitei em desmontá-los ou vê-los serem destruídos.
Mas, como o título diz, acabei aprendendo algo novo, algo que realmente fazia sentido. Isso foi um choque, depois de todo o tempo que investi explorando o assunto. Vamos ver como aconteceu.
I. Meu entendimento original
Eu quero entrar em alguns detalhes sobre meu entendimento ateísta de Deus, tanto para provar minhas "credenciais ateístas" para qualquer ateu que está lendo isto, mas também para contrastar com o que eu sei agora. (Eu sempre ficava irritado quando ouvia depoimentos de “ex-ateus” que pareciam nunca ter encontrado refutações aos pontos que estavam fazendo agora).
Como ateu, entendi que Deus é uma explicação sobrenatural para os fenômenos que encontramos no universo. Um espaço reservado que as pessoas usaram porque não queriam dizer "Eu não sei" ao ponderar sobre como funciona o mundo que viam ao seu redor. Richard Feynman resumiu assim:

Deus sempre foi inventado para explicar o mistério. Deus sempre é inventado para explicar as coisas que você não entende. Agora, quando você finalmente descobre como algo funciona, você obtém algumas leis que está retirando de Deus; você não precisa mais dele. Mas você precisa dele para os outros mistérios. Portanto, você o deixa para criar o universo porque ainda não descobrimos isso; você precisa dele para entender aquelas coisas que você não acredita que as leis irão explicar, como a consciência, ou por que você só vive por um certo período de tempo - vida ou morte - coisas assim. Deus está sempre associado com as coisas que você não entende.
Meu caso não era que "Deus não existe", mas sim "não há boas evidências de que qualquer deus exista e, portanto, não há uma boa razão para acreditar em um". Era uma “hipótese desnecessária”.
Eu estava familiarizado com todas as maneiras típicas pelas quais as pessoas tentavam argumentar em favor de Deus, bem como com as respostas típicas:
Apelo à ignorância: "A vida, o cosmos complexo, etc. não poderia ter se formado por meios naturais, Deus o fez". (Nossa ignorância sobre um assunto não nos dá licença para colocar qualquer coisa em seu lugar. E como sabemos os limites do que pode acontecer naturalmente, de qualquer maneira?)
Apelo para as consequências # 1: “Se as pessoas não acreditam em Deus, não há base objetiva para a moralidade, portanto, as pessoas devem acreditar em Deus se quisermos que se comportem”. (Isso pode ser um argumento para a religião, mas não para a verdade da religião).
Apelo para as consequências nº 2: “Se as pessoas não acreditam em Deus, a vida é muito sombria. Você precisa acreditar em Deus para ser feliz. ” (Este pode ser um argumento para agir como se Deus fosse real, mas não para descobrir que Deus é real. A realidade é o que é, independentemente de como nos sentimos a respeito).
Falácia genética: “Você não acredita porque quer pecar”. (Como isso prova Deus, afinal?)
Argumentum ad baculum (apelo à força): “Se você não acredita em Deus, coisas ruins acontecerão com você depois que você morrer”. (A aposta de Pascal também se encaixa aqui, ao que eu responderia que "acreditar não é uma escolha, você tem evidências para acreditar ou não")
Argumento de experiência pessoal: “Ore a Jesus e você se sentirá maravilhoso”. (Se for esse o caso, isso não prova Deus para a mente cética, embora o indivíduo possa se convencer. Só revela coisas sobre a psicologia humana. Existem inúmeras experiências pessoais específicas de uma religião ou denominação que outros rejeitam como prelest (ilusão espiritual)
Argumento da consciência: "Sem Deus, como você explica a consciência?" (uma variante do argumento da ignorância)
Apelo às profecias da Bíblia: “Muitas profecias da Bíblia se cumpriram!” (Sim, está escrito na página 600 - algo que foi profetizado na página 400 - algo se tornou realidade. Este é um argumento sério?)
Apelo para fatos bíblicos: “Os historiadores acabam de descobrir uma cidade mencionada na Bíblia!” (Isso significa que qualquer livro onde a ação acontece em locais reais é verdadeiro? Essas pessoas nunca ouviram falar de ficção histórica?)
Já deve estar claro que não tenho paciência para argumentos ruins.
Em questões de incerteza, eu escolhia uma posição de agnosticismo: “bem, nós simplesmente não sabemos como isso aconteceu, então por que Deus deveria ser a explicação? Principalmente considerando que todas as outras vezes em que estivemos nessa situação, a resposta acabou sendo totalmente natural ”.
Eu ainda considero a seguinte declaração de Richard Feynman sobre conhecimento e ignorância intelectualmente honesta e respeitável:

Posso viver com dúvidas e incertezas e sem saber. Eu acho que é muito mais interessante viver sem saber do que ter respostas que podem estar erradas.

II. Meu entendimento atual

Conforme mencionei em minha postagem sobre por que não sou mais um novo ateu, a certa altura fiquei desiludido com ele como um movimento.
Só por curiosidade, peguei um livro polêmico do filósofo católico Edward Feser: “A última superstição: uma refutação do novo ateísmo”. Eu gostei, então continuei com outro livro dele, “Aquinas (A Beginner's Guide)”, e dois livros do filósofo ortodoxo David Bentley Hart: “Delusions Atheist: The Christian Revolution and its Fashionable Inemies” e “ A Experiência de Deus: Ser, Consciência, Bem-aventurança ”.
Ambos os autores argumentam que o "deus" que está sendo jogado nos debates teísmo vs ateísmo é uma caricatura de Deus como entendido pelo teísmo clássico.
Eles fazem um grande esforço para diferenciar o teísmo clássico de "design inteligente", "relógio de Paley", o "Deus das lacunas", o deísmo e todas as outras ideias religiosas baseadas no argumento da ignorância. Eles simplesmente postulam “deus” como uma explicação de por que este ou aquele aspecto do mundo natural é de uma certa maneira. David Bentley Hart chama isso de “demiurgo”, um mestre engenheiro que moldou o mundo físico em forma.
Em contraste, eles argumentam, cada um em sua própria maneira distinta, o teísmo clássico é baseado na razão. Como isso pode ser?
A defesa do Deus do teísmo clássico é baseada em três etapas. Eles não são enumerados explicitamente pelos autores, mas estruturá-los dessa forma torna as coisas mais claras, da minha perspectiva:
1-Reconhecendo a distinção entre questões físicas e metafísicas.
Eles mostram que a física é, por definição, limitada em quais questões ela pode responder, mesmo em princípio, e que existem questões que são qualitativamente diferentes das físicas. Feser lida com a origem da mudança e causalidade, Hart com a questão da existência.
2-Reconhecendo a necessidade de certas respostas necessárias.
Eles mostram que as perguntas colocadas em # 1 devem ter uma resposta, e essa resposta deve ser qualitativamente diferente do que estamos acostumados.
3-Identificar certas características desta resposta.
É aqui que eles concluem que a personalidade e a subjetividade devem ser características essenciais da resposta identificada no item 2, e é por isso que eles usam um nome, “Deus”, em vez de uma designação genérica e impessoal.

# 1: Sobre a distinção entre questões físicas e metafísicas.

No mundo moderno, a ciência e a educação nos deixam confortáveis ​​com perguntas que têm respostas físicas. Porque chove? O ciclo da água. Por que o sol brilha? Gravidade e fusão.
E Feynman está certo, as pessoas muitas vezes invocavam e ainda invocam deuses para explicar essas questões físicas.
Mas todas as questões são de natureza física? Ambos os autores argumentam que existem questões que estão em uma classe completamente diferente de perguntas. A maneira de chegar a essas questões é dar um passo para trás e olhar de longe para a física, começar a fazer perguntas sobre a própria física e o que a torna possível. Daí o nome “metafísica”.
Uma dessas questões que eu gosto muito é a questão da existência: “como é que qualquer coisa (incluindo qualquer causa) pode existir?”.
Só para esclarecer, a questão não pergunta "como nosso Universo apareceu?", Mas sim "qual é a própria fonte da existência?". Se o Universo e as leis da física sempre existiram, isso não elimina a questão de sua existência nem um pouco. “Como é que elas sempre existiram?” é uma questão completamente legítima. Não estamos perguntando “como elas começaram?”. Estamos perguntando "como é que a própria existência é um fato do mundo?". Ambos os autores deixam explícito que as questões sobre a origem das coisas não dependem da suposição de que o Universo teve um início.
A questão não é sobre o estado anterior na evolução de um sistema físico. É sobre por que existe um sistema físico para começar.
Caso você não esteja convencido de que a distinção entre questões físicas e metafísicas é significativa, vamos explorar uma questão física relacionada: "qual é o mecanismo físico que mantém tudo no universo razoavelmente consistente de momento a momento?"
A ciência moderna aposta fortemente no fato de que a pergunta faz sentido e pode ser respondida. É por isso que investimos bilhões em aceleradores de partículas.
Se você tentar responder a isso usando a física, pode começar observando que existem princípios de conservação que evitam que as coisas simplesmente desapareçam. Mas então você pode simplesmente perguntar: “como é que existem tais princípios de conservação em primeiro lugar?”.
Suponha que encontremos um princípio ainda mais profundo do qual derivam as leis de conservação.
... talvez o vácuo quântico dê origem constantemente a uma infinidade de multiversos, onde muitas "leis" diferentes se manifestam em uma infinidade de variações incrementais, e apenas em algumas delas é que a física pode sustentar mentes capazes de colocar essa questão. (Alguns cientistas acreditam que existem universos onde as leis de conservação não se aplicam, enquanto em outros, o espaço-tempo subjacente não pode dar origem a nada).
… Talvez a resposta esteja na teoria das cordas ou em alguma teoria mais fundamental ainda não descoberta. Ou talvez todos vivamos em uma simulação.
Todas essas são respostas físicas. Mas cada nova resposta física possível não pode ajudar, mas levanta a questão metafísica original.
A questão metafísica era: “como é que esta situação existe e pode mesmo existir, em primeiro lugar?”. Aplica-se igualmente bem a esta nova resposta, seja ela qual for, e estamos de volta ao início. Claro, entenderíamos cada vez mais sobre o mundo, mas não teríamos avançado nem um pouco para responder à pergunta original.
Nos termos de Tomás de Aquino, a essência de uma coisa finita (o que é) falha inteiramente em explicar sua existência (que é). ... talvez a resposta esteja na teoria das cordas ou em alguma teoria mais fundamental ainda não descoberta. Ou talvez todos vivamos em uma simulação.
Todas essas são respostas físicas. Mas cada nova resposta física possível não pode ajudar, mas levanta a questão metafísica original.
Nos termos de Tomás de Aquino, a essência de uma coisa finita (o que ela é) falha inteiramente em explicar sua existência (que é).

# 2: Sobre as respostas necessárias às questões metafísicas.

Observamos que existem certas questões complicadas que são completamente legítimas, mas que simplesmente estão fora do que a física irá responder. Não é que a física não possa respondê-las agora, mas que possa respondê-las com mais ciência, é que a física não irá respondê-las, mesmo em princípio.
Respondendo "por que existe um mundo físico em primeiro lugar?" está fora da competência da física porque exige um olhar externo.
Há uma diferença qualitativa entre as questões físicas e as metafísicas, e a lacuna simplesmente não pode ser violada adicionando mais camadas de fisicalidade. Confundir os dois é um erro de categoria.
Isso é tão certo quanto o fato de não haver “maior número primo”, como provou Euclides há mais de dois milênios. Não importa quão rápido nossos computadores cheguem e quanta memória eles tenham, sejam eles do tamanho de planetas ou galáxias, eles nunca encontrarão um número primo que possam determinar ser “o maior primo”. Sempre haverá um maior, mesmo que não saibamos qual é esse número para qualquer dado grande número primo. Nesta prova, não há exigência de qualquer "evidência empírica". Que “evidência empírica” poderia haver?
Da mesma forma, a física não pode responder à questão da existência. Mas nós existimos, então deve haver uma resposta.
A questão metafísica era: “como é que esta situação existe e pode mesmo existir, em primeiro lugar?”. Aplica-se igualmente bem a esta nova resposta, seja ela qual for, e estamos de volta ao início. Claro, entenderíamos cada vez mais sobre o mundo, mas não teríamos avançado nem um pouco para responder à pergunta original.
A única opção racional restante é que deve haver uma resposta não física, seja qual for o significado de “não físico”. Observe que não indicamos qual é a resposta, apenas estabelecemos que deve haver uma. Vamos chamá-lo de "fonte de existência" ou "origem da existência" por enquanto.
Mas por que essa resposta seria a última? Por que não podemos simplesmente fazer a pergunta novamente, como fizemos com todos os exemplos concretos anteriores? É porque foi assim que o identificamos em primeiro lugar. Dissemos: “vamos considerar essa resposta onde termina o questionamento”. É a forma como o definimos quando começamos a procurá-lo.
Deve haver “algo” que deixa de exigir uma causa externa para sua própria existência, a fim de ser capaz de comunicar existência a tudo o mais. Portanto, embora não saibamos mais nada sobre esse “algo”, sabemos uma coisa: é necessário que exista por si mesmo. Por definição.
Isso não é diferente (mas também não é idêntico a) estabelecer um limite em matemática, ao trabalhar com séries infinitas convergentes. Você não começa com um valor e declara que esse é o limite. Você começa com o conceito de um limite e determina que deve haver um valor. Como esse valor é o limite, a série não pode ultrapassá-lo, embora possa sempre ultrapassar qualquer valor anterior ao limite.
Observe que a questão da existência não depende da complexidade do mundo, da existência de vida ou qualquer coisa assim. Se a única coisa que existisse fosse um campo quântico que nunca produziu nenhuma partícula, ou um único próton que sempre existiu e sempre existirá, a necessidade de uma resposta necessária para a questão da existência seria exatamente a mesma. Nada mudaria mesmo se descobríssemos que nosso Universo é parte de um multiverso, que somos parte de uma simulação, etc.
Para enfatizar o ponto sobre a complexidade: se a única coisa que existiu foi um único elétron, ainda assim exigiria uma explicação e uma causa para a existência do universo que permite isso. E esta explicação, por definição, não exigiria mais explicações, embora seja infinitamente mais complexa do que o elétron. A existência do elétron simples precisa ser explicada, enquanto a fonte necessária de sua existência não. Por definição.

# 3: Por que Deus?

Tendo estabelecido que deve haver uma "fonte de existência" que está fora do reino da física (porque é o que torna a física possível em primeiro lugar), há algo significativo que possamos dizer sobre essa "fonte"?
Parece que tropeçamos em uma conclusão intrigante e inevitável, apenas para ficarmos completamente perplexos com o que fazer a seguir, exatamente quando estávamos morrendo de vontade de descobrir mais. Podemos fazer outra coisa senão jogar nossas mãos para o alto em frustração, simplesmente porque esta “origem” ou “fonte” é tão completamente incompreensível e insondável?
Meu antigo eu agnóstico-ateu iria e argumentou que sim, talvez possa haver uma origem final para tudo, mas é cercado por uma névoa impenetrável de incerteza e é provavelmente tão incompreensível que nada significativo pode ser dito ou pensado sobre isso. Esta posição, no entanto, é baseada na recusa de até mesmo tentar, e apenas afirma abertamente que não se deve nem mesmo se preocupar.
Vamos tentar, por uma questão de honestidade intelectual.
Aqui, o argumento é o seguinte: qualquer propriedade essencial observada como existente no mundo não pode faltar em sua origem. Se a origem não o tivesse, por definição, não poderia transmiti-lo a mais nada.
Bem, sabemos que o mundo contém pessoas conscientes com mentes e experiências subjetivas. Estamos aqui, não estamos? Portanto, a "origem" que nos mantém existindo simplesmente não pode faltar essas características. Claro, o material físico de que somos feitos não precisa ter esses traços, mas uma vez que eles se manifestam quando a coreografia do material de que somos feitos se junta, eles não podem estar ausentes de onde a própria existência surge .
É apenas uma cortesia comum parar de chamar a "fonte metafísica" de "fonte" e usar um nome, como você faria ao se referir a uma pessoa. Portanto, as pessoas simplesmente começaram a usar o nome “Deus” para se relacionar com ele. Também é uma convenção usar o pronome "He".
E é isso.
Este não é o deus do deísmo, que forjou um Universo autossustentável e depois se retirou. A relação é mais análoga a um violinista e a música que ele está tocando.
Pode ser que vivamos em uma simulação e, na verdade, haja uma equipe de cientistas executando nosso Universo dentro de algum tipo de computador. Mas eles não seriam Deus, porque estariam na mesma posição que nós.
“Mas este não é apenas o argumento da ignorância?”, Você pode perguntar. E a resposta é “não, não é”. Argumentos da ignorância encontram uma lacuna no conhecimento e arbitrariamente colocam uma explicação específica naquele lugar. Não foi assim que esse argumento se deu.
Nós não dissemos "Esse cara de quem realmente gostamos de qualquer maneira, Deus, simplesmente é a resposta que estávamos procurando". Não encontramos lacuna em nosso conhecimento e declaramos, por decreto, que a resposta é o Deus abraâmico. Fizemos uma boa pergunta e determinamos um conjunto mínimo de características que devem ser verdadeiras para a resposta, raciocinando que todas as características alternativas possíveis simplesmente não podem ser verdadeiras. Não começamos com uma concepção conhecida de Deus, mas acabamos com "algo" que então raciocinamos ter certas características. Entre estes, que não pode faltar consciência e que deve haver apenas um.
Eu usei deliberadamente a expressão "Deus não pode faltar ..." ou "essas características não podem faltar em Deus" porque somos simplesmente constrangidos quando se trata de quais declarações positivas podemos fazer. As coisas no mundo são reflexos imperfeitos de características presentes em sua origem última.
Feser diz que nenhum dos conceitos que aplicamos às coisas no mundo, incluindo a nós mesmos, se aplicaria a Deus em qualquer coisa, exceto em um sentido análogo, e que tais conceitos não fazem sentido quando literalmente aplicados a Deus. Eu descobri que essa hesitação era intelectualmente honesta.
Observe também que o caso não é uma questão de evidência ou probabilidade. Esta não é uma hipótese que está sendo postulada como uma explicação possível entre outras. Não requer nenhum tipo de fé, muito menos fé cega em um livro ou autoridade. Ele foi obtido por meio de uma demonstração metafísica estrita, não muito diferente das provas matemáticas.

# 4: Deus não é opcional.

Uma vez que você entende como Deus é definido, a existência dele deixa de ser uma questão de “se”. Deus não é opcional. Deus não é algo “extra”, apenas mais uma entidade dentro do mundo natural, que pode muito bem não estar lá.
No entanto, o ateísmo, o agnosticismo, bem como quase todos os debates populares “sobre a existência de Deus” dificilmente reconhecerão uma consciência dessa definição.
O resultado é que os incrédulos, ao ponderar sobre o assunto, provavelmente não encontrarão o tipo de compreensão de Deus que estamos explorando aqui.

# 5: Deus como transcendente não competitivo

Se Deus é imaginado como apenas mais uma entidade que "ocupa espaço" no mundo, então não estamos falando sobre Deus. O Deus incriado por necessidade tem que transcender o mundo criado (físico).
Deus não está, por natureza, localizado em qualquer lugar dentro do mundo, ao contrário, Deus contém o mundo.
Deus é imanente ao mundo (não ausente de lugar nenhum) e não competitivamente transcendente a ele (não idêntico a ele, mas infinitamente maior).

# 6: Este é Deus?

Neste ponto, muitos crentes e não crentes podem estar pensando: "bem, isso não soa como o Deus que conhecemos". Sim, certamente não soa como Ele.
Deus quase nunca é ensinado a partir dessa perspectiva filosófica, exceto em certas escolas teológicas. Talvez não tenha sido considerado necessário. Duvido muito que os camponeses da Europa rural fossem especialmente inclinados à metafísica.
As narrativas religiosas tradicionais eram boas o suficiente para as pessoas porque as pessoas eram boas o suficiente para as narrativas religiosas tradicionais.
Eles cresceram com Deus e não precisavam encontrá-lo quando vagavam "fora", como em uma nevasca ou tempestade de areia.
Esta é apenas a descrição metafísica ou filosófica do teísmo clássico, não a dogmática ou confessional. É uma espécie de "entendimento mínimo viável" e não é de forma alguma completo, nem afirma ser.
Alguns não gostam desta abordagem filosófica:
Pascal lamentou em seus Pensées que ele está interessado no “Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó, não de filósofos e estudiosos.”. Ele temia que a abstração desse tipo de demonstração tornasse o Deus cristão irreconhecível. Os cristãos ortodoxos orientais também são conhecidos por serem céticos em relação a essa abordagem "ocidental".
Pessoas como Richard Dawkins zombam dessa "teologia sofisticada" e a descartam alegando que "não é o que as pessoas comuns acreditam". Mas as pessoas têm conhecimentos incompletos sobre uma ampla variedade de tópicos, incluindo a teoria da evolução. Dawkins argumentaria que isso de forma alguma afeta a validade da ciência evolucionária.
Outros argumentam a favor da abordagem filosófica:
David Bentley Hart observa que essa visão de Deus, com as características atribuídas a Ele, está no cerne de quase todas as religiões do mundo. Cada religião é construída em cima de algo assim.
O bispo Robert Barron elogiou Tomás de Aquino e argumentou que essa tradição intelectual filosófica precisa ser recuperada e é muito necessária hoje. Ele também reconheceu, em sua entrevista para o Rubin Report, que a filosofia só leva você a parte do caminho.
Então, para mim, é muito claro: o Deus dos filósofos certamente dá um vislumbre de Deus como explorado nas religiões tradicionais. Um vislumbre muito necessário para alguém que não sabe por onde começar a pensar sobre isso.

III. Sobre religião e ciência

Um fato interessante é que todas as minhas objeções de quando eu era ateu eram inteiramente justificadas. Eles simplesmente passaram voando pelo Deus transcendente do teísmo clássico.
Sob esse ponto de vista, não há conflito com a ciência moderna. Big Bang, ciência evolucionária, física moderna, teoria do caos, a ciência que ainda está para ser descoberta. Nada disso apresenta qualquer dificuldade para o teísmo clássico. Multiverso, hipótese de simulação, o que você quiser, se elas acabarem sendo provados verdadeiros.
Considere o Deus que descrevi até agora. Se você não acredita que Deus existe, suspenda sua descrença por um momento. Por que a evolução contradiria Deus, quando Deus é aquele que mantém a existência das mesmas coisas nas quais as forças evolucionárias operam?
Você acha que Deus é pego de surpresa quando o oxigênio e o hidrogênio se combinam para formar água?
Da mesma forma, ele fica surpreso quando esta combinação particular de ácidos nucléicos GTAC “simplesmente acontece” para iniciar uma reação química que resulta em algo que ronrona e mia? E ele fica surpreso quando uma mudança em um dos ácidos nucléicos produz algo que ronrona de uma maneira ligeiramente diferente?
Todas as combinações possíveis de ácidos nucleicos constituem um espaço delimitado e multidimensional que é tão "estabelecido" com antecedência quanto a tabela periódica de Mendeleev, antes mesmo dos átomos condensarem do plasma e antes que as primeiras supernovas produzissem elementos pesados. Não há necessidade de Deus forçar a física a dar origem a células, gatos e corpos humanos.
Não gosto de "design inteligente" e teorias semelhantes porque presumem que Deus simplesmente não sabia como fazer a automontagem matéria, então ele constantemente precisa empurrar as moléculas de vez em quando para que não se desviem. Isso implicaria que eles não fariam isso naturalmente.
Assume que a física, a química e a biologia são independentes de Deus. As premissas em que se baseia já excluem o Deus do teísmo clássico, optando por um “deus” engenheiro que existe apenas como outra entidade no mundo natural, fazendo o possível para moldar a matéria em forma, matéria sobre a qual ele não tem controle outro do que a de um físico.
Mas quando se considera o Deus do teísmo clássico, a ideia de qualquer sistema físico fazendo qualquer coisa "por conta própria" (que então precisa de intervenção divina para dar origem a sistemas complexos) nem mesmo faz sentido.
O argumento do "ajuste fino" não se sai muito melhor, na minha opinião, porque reduz Deus à tarefa de girar os botões das constantes físicas fundamentais, como se essas constantes tivessem o poder de restringi-lo no que Ele pode fazer. É como se Deus se encontrasse em um Universo que tem espaço, tempo, matéria e energia, e ele só pode ajustar variáveis ​​que determinam o número de dimensões e como as partículas interagem, até que Ele encontre a zona dourada para a vida.
Mas o Deus do teísmo clássico não precisa intervir para empurrar as moléculas de ácido nucleico para fora de seu caminho usual, a fim de alcançar algum tipo de design "irredutivelmente complexo". Seu caminho usual é o caminho certo porque Ele é quem projetou todos os padrões e possibilidades possíveis (o Logos). Não há necessidade de nenhum "campo mórfico" ou "élan vital" para dar forma e vida à matéria inanimada. Deus não precisa de nenhuma “matéria” especial para animar a matéria, quando é Ele quem continuamente a gera, espaço, tempo e todos os estados potenciais em que o Universo pode estar. (“Visibilium omnium et invisibilium”, como diz o Credo )
O mundo pode funcionar fisicamente conforme descrito por qualquer teoria científica válida, sem que isso entre em contradição com qualquer coisa que escrevi neste post sobre Deus.
Richard Feynman concorda neste ponto:
Não acredito que a ciência possa refutar a existência de Deus; Eu acho que isso é impossível. E se for impossível, não é a crença na ciência e em um Deus - um Deus comum da religião - uma possibilidade consistente?
Sim, é consistente. Apesar de eu ter dito que mais da metade dos cientistas não acredita em Deus, muitos cientistas acreditam na ciência e em Deus, de uma forma perfeitamente consistente. Mas essa consistência, embora possível, não é fácil de atingir.
Então, como chegamos à concepção equivocada de que ciência e religião estão em conflito? Feser e Hart comentam sobre isso. A culpa é de ambos os lados e o processo remonta ao século XIII. Em primeiro lugar, filósofos religiosos e teólogos revolucionários bem intencionados criticaram e reduziram sua própria religião à incoerência. Posteriormente, na modernidade, os céticos entenderam mal e se contentaram com seu mal-entendido. Depois, exageraram os méritos de sua própria época para contrastá-la com a anterior e acabaram criando uma mitologia, um mito da criação da era moderna. Quanto mais céticos avançavam a ideia de que a ciência refuta Deus, mais os apologistas reagiam sentindo-se ameaçados (uma atitude que não existia originalmente). O literalismo bíblico é na verdade um fenômeno moderno e o conflito presumido entre a Igreja e a ciência é uma ficção moderna. (Fontes: 1, 2, 3, 4, 5, 6)
A “descoberta” do Novo Ateu de que os fundamentalistas e literalistas bíblicos estão falando bobagens era apenas senso comum na era dos Pais da Igreja. Os apologistas tentaram competir com a ciência no campo da ciência, quando não há necessidade de fazer isso em primeiro lugar. Muito pelo contrário.
Não há razão para que qualquer pessoa moderna, cientificamente letrada e teologicamente informada, precise escolher entre Deus e a ciência. Em última análise, tudo vem de Deus, mas não há contradição entre aceitar isso e aceitar que quando você "amplia", descobre que vários fenômenos naturais são compostos de classes cada vez menores de partes interagentes.

IV. O que agora?

Se eu fiz um trabalho meio decente ao apresentar os argumentos que achei relevantes, e ainda há um ateu ou agnóstico que leu até este ponto, pode ser que eu tenha convencido alguém a pelo menos entreter a ideia de Deus.
O fato de Sua existência pode atingir você duramente, no entanto. Porque se o argumento estiver correto, ele tem várias implicações imediatas.
Se Deus realmente existe, de alguma forma insondável, apesar das objeções dos céticos e da improvável confiabilidade das religiões, algo irá surgir em você muito em breve.
Se Deus é uma pessoa consciente, com uma experiência subjetiva, você não pode deixar de perceber que, neste exato momento, Deus está consciente de você, como você Dele, talvez pela primeira vez. Ainda mais, incompreensivelmente mais, e tem estado consciente de você em cada momento de sua vida, esperando que você desperte para Ele.
O que fazer? Você não pode simplesmente concluir que Deus existe e continuar como de costume. Você não tem que dizer “oi”, pelo menos? E como fazer isso?
É aqui que entram as tradições religiosas. Nessas situações, as pessoas se sentem mais confortáveis ​​explorando as tradições nas quais nasceram. Você pode olhar para isso com olhos completamente novos e ver o que estava lá o tempo todo, mas você errou.
Aceitar a existência de Deus não tem nada a ver com fé. E é a existência de Deus que é a pedra de tropeço para ateus e agnósticos. A fé tem a ver com o que você escolhe fazer, uma vez que percebe que a existência de Deus é uma conclusão inevitável. Você tem que "confiar" que a tradição religiosa com a qual está se engajando está dizendo coisas significativas e que você mesmo está progredindo na direção certa. Mas pelo menos essa confiança é baseada no conhecimento de que o objetivo de todo o esforço é real e é possível que o que você está descobrindo seja legítimo.
Eu pessoalmente sigo a regra de Lindy de Taleb e aposto no que resistiu ao teste do tempo. Há uma orientação espiritual sólida tanto na Igreja Romana quanto na Bizantina, uma vez que você aprofunde sua compreensão de por que eles fazem as coisas da maneira que fazem
O tópico é obviamente muito complexo, e presumo que a linguagem simbólica e a iconografia usadas no Cristianismo tradicional sejam uma característica, não um bug. Ou seja: o tópico é tão contra-intuitivo que a linguagem é simplesmente insuficiente para articular as coisas de maneira direta. Então, eles usam a história e a imagem para guiar e chamar a atenção. É provável que alguma confusão seja inevitável. Mas você não gostaria de saber o que as pessoas que estavam na mesma situação que você têm a dizer?
Se o leitor não ficou convencido do caso, pelo menos espero ter conseguido apresentar uma imagem de Deus que vai além da caricatura do "amigo invisível no céu". Sim, existem pessoas lá fora que acreditam em bobagens. Mas não suponha apenas que todo crente é um idiota que só precisa assistir a mais vídeos de Dawkins e Carl Sagan.
O próprio Richard Feynman, mesmo sendo ateu, era favorável à religião que está no centro de nossa civilização:
A civilização ocidental, parece-me, possui duas grandes heranças. Uma é o espírito científico de aventura - a aventura no desconhecido, um desconhecido que deve ser reconhecido como desconhecido para ser explorado; a exigência de que os mistérios irrespondíveis do universo permaneçam sem resposta; a atitude de que tudo é incerto; para resumir - a humildade do intelecto. A outra grande herança é a ética cristã - a base da ação no amor, a fraternidade de todos os homens, o valor do indivíduo - a humildade do espírito.
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não tenho direito de decidir nem se quero me matar ou não

sou um fracasso não posso contar com minha família pra nada, meus amigos não me respeitam e apesar deles falarem "ah pode contar comigo" quando eu conto com eles e falo sobre meus problemas eles só acham absurdamente pesado e ficam sem palavras, e sem contar que no meio do nosso círculo de amigos tem uma mina que por ela ser babaca e arrogante pra caralho, todo mundo age como se ela tivesse uma "personalidade forte", e passam o dia louvando ela e tratando ela como uma deusa, e como eu fui amiga bem próxima dessa mina por um longo tempo e ela era meio abusiva comigo, eu acabei dando muita liberdade pra ela, e agora, mesmo que a gente nem se fale mais, ela ainda acha que tem essa liberdade e me trata como alvo de Bullying, e quando eu tento "cortar as asinhas" dela e dizer que não gosto de tais coisas, só piora, queria cortar contato com ela, mas se eu corto contato com ela eu corto contato com todo mundo, o máximo que pude me afastar dela me afastei, mas ela ainda frequenta os mesmos lugares que eu então não tem como eu só me afastar dela completamente, e como ela me destrata e todo mundo acha que ela é um tipo de Deus entidade superior, por consequência me destratam também, não na mesma intensidade que ela (já que lol ela literalmente me fez ter inúmeras crises de pânico e diversos pensamento suicidas e já quase arruinou minha vida umas duas vezes!) mas ainda sim dá pra ver que cada vez que ela "de zoeira" me bane do server dela e tira todos os meus cargos por dois dias, mais e mais as pessoas perdem o respeito por mim, ela mesma já disse explicitamente que "meu sofrimento é a diversão dela", e considerando que ela diz isso entre umas 20 pessoas e abertamente na minha frente sem nenhum tipo de vergonha, isso deveria ser visto como piada por mim, mas quando eu considero tudo que eu passo por causa dessa filha da puta (desculpa o palavreado) eu não duvido dela genuinamente sentir prazer em me ver sofrendo, na verdade ela já até tweetou que provavelmente tem algum grau de psicopatia ou sociopatia, e lol, não duvido não a esse ponto.
Enfim, acredite ou não, esse não é o maior problema da minha vida, minha mãe tá numa profissão que está lentamente morrendo juntamente do patrão dela que se encontra na mesma situação após ter tido um AVC e ter perdido grande parte da movimentação do corpo e cada dia que passa demonstrar que cada vez mais e mais ele está no bico do corvo, e quando ele de fato enfiar a perna toda na cova e só ir embora (o que logo logo já rola), não é hipérbole nenhuma dizer que talvez a gente more na rua, então apesar de todos os dias por conta de inúmeros problemas que tenho na vida sentir uma vontade profunda e mórbida de bater minha cabeça contra a parede continuamente até ter um traumatismo craniano e morrer ali mesmo, ou de sei lá só tomar veneno, eu não posso fazer isso pois eu tenho pessoas aqui do qual toda estabilidade financeira e alegria e esperança no geral dependem da minha pessoa, então eu tenho duas alternativas de vida:
  1. Passar os próximos 20 anos da minha vida completamente isolada da sociedade sem amigos e sem namorado ou namorada trabalhando todos os dias igual uma filha da puta pra prover uma vida confortável pra minha mãe e pro meu cachorro, e assim que ela tivesse tido a melhor vida que ela poderia ter provida por mim mesma, eu faria o enterro dela, deixaria o cachorro com uma amiga próxima da família, e me mataria com uma overdose, assim depois e anos e anos de sofrimento realizando o meu tanto almejado anseio pelo descanso eterno e o fim dessa vida cheia de miséria, dor e desgraça, deixando apenas um bilhete para minha irmã e caso meu pai esteja conosco, o que eu duvido MUITO, talvez algumas economias na conta bancária dele.
  2. Estudar pra caralho agora pra conseguir um emprego com um salário fudidamente alto e economizar uma fortuna com todas as minhas forças, sair desse emprego e ir morar no meio do mato com a minha mãe, sem internet, sem TV, sem sinal de celular, sem energia elétrica, nada, apenas eu e minha mãe e meu cachorro vivendo numa cabana na floresta completamente e absolutamente isolados do mundo externo vivendo do que plantamos e do que caçamos. OBVIAMENTE, mas CLARAMENTE meu plano aqui é MUITO mais embasado do que eu falei aqui, tipo, MUITO mais, envolve muito mais detalhes que eu já tenho completamente planejados aqui comigo mesma. Minha mãe disse que esse é o sonho da vida dela então é uma opção.
E assim, apesar d'eu as vezes genuinamente odiar a sociedade industrial da qual vivemos, eu tenho certeza que se eu chegasse pra mim mesma de dois anos atrás e dissesse "nenhum de seus sonhos vai se realizar, tudo que a vida tem a te oferecer é ou uma morte por overdose ou passar o resto de seus dias morando com sua mãe numa floresta sem internet tomando ensopado de tomate e comendo coelho assado", essa eu de dois anos provavelmente teria um infarto ou se mataria ali mesmo diante do futuro horroroso que lhe aguarda, e a parte HILÁRIA da história é que eu não tenho nem amigos pra quem eu possa contar pra me dar qualquer tipo de ajuda ou suporte! Hahahahahaha!!!! Absolutamente TODOS, mas TODOS eles não possuem qualquer tipo de respeito por mim, e claro, mesmo que eu fosse tão endeusada quanto aquela filha da puta que eu falei no primeiro parágrafo, DEFINITIVAMENTE eles não conseguiriam resolver NENHUM dos meus problemas, tal qual você, Redditor, lendo esse texto não vai conseguir resolver de maneira ALGUMA a não ser que você seja um lorde sábio, ou talvez tu consiga me encher de falsas esperanças o que pode me ajudar por uns 40 minutos o que é bem vindo eu acho.
Enfim, espero que Deus tire minha vida logo!
submitted by PainGreat4612 to desabafos [link] [comments]

Ser gentil e ajudar as pessoas é uma faca de dois gumes

Texto longo, não precisa ler, é apenas um desabafo.
Sempre fui muito cuidadoso e afetuoso com todos que amo. Sempre. Desde pequeno eu tenho esse comportamento de dar amor e carinho para quem precisa. Sempre fui a pessoa para qual os outros corriam para chorar e desabafar, o famoso ombro amigo do grupo.
Tenho um carinho enorme e gosto de cuidar dos outros. Sei que parece bobo, mas bem lá no fundo do meu interior me sinto feliz pela pessoa na qual consigo ajudar, mesmo que seja bem devagar. Gosto de compartilhar o que aprendo e de amparar quem está aos prantos porque ninguém nunca fez isso por mim. Entendo plenamente a angústia de seu chão estar desmoronando e não ter uma alma pra te ajudar por perto.
A única parte ruim é que estou me fudendo bastante por isso. Sou sentimental e quando me apego é difícil deixar ir sem dor e choro. As pessoas têm lados... cruéis? Não sei se essa é a palavra certa, mas acho que se encaixa aqui. As pessoas mostram seus piores lados até mesmo para quem as apoia.
Por exemplo, cresci vendo minha mãe biológica sofrer. Saia e entrava de relacionamentos abusivos toda hora, tem depressão crônica, transtorno de ansiedade generalizada, problemas com bebida, cigarro, remédios e outras drogas. Apesar da minha mente de criança não entender de fato os assuntos, sempre tentava animá-la e lembrá-la que apesar de tudo, ela me tinha ao seu lado. Fazia cafuné na cabeça dela quando estava deitada na cama e esgotada de tudo e todos, provavelmente uma das coisas que ela mais gostava. Ali ela me contava várias de suas preocupações e eu dava o meu melhor para aconselhá-la (sim, uma criança tentando bancar o terapeuta sem ter experiência de vida, meio louco mas funcionava para nós). Incentivava ela a tudo que podia, falava para ela sair mais, escutar música, ler, escrever e até mesmo desenhar. Não conseguia ver os olhos dela sem vida e ficar parado porque eu sentia e ainda sinto muito amor por ela.
Enquanto crescia comecei a me descobrir várias coisas, mas logo de cara me veio uma preocupação: sabia que ela era preconceituosa. Bem, no começo até eu era porque não tinha noção de nada, mas conforme fui me desconstruíndo essa aflição só aumentava. Passei por momentos difíceis sozinho pois não tive ninguém pra contar nessa época, e no fim acabei me descobrindo trans, pansexual e panromantico.
Me veio um surto na hora, pois sabia que se ela descobrisse eu estava morto. E não é que acertei?
Talvez agora tenha algum gatilho, então se tem problemas com humilhação pesada por preconceito sugiro que não leia
Ela chegou em casa e pediu para conversarmos, com a minha irmã que na época tinha 9 meses no colo. Vou poupar os xingamentos mais pesados (palavrões e termos extremamente preconceituosos), mas no meio disso tudo ela disse que eu estava PROÍBIDO de cortar meu cabelo de novo, que eu tinha um corpo feminino e "lindo" (se referindo aos meus seios e quadril que são maiores que muitas pessoas da minha idade) e que eu deveria me sentir uma mulher e gostar de homens. Depois disso tudo, ela olhou bem fundo dos meus olhos. Aqueles olhos que eu tanto me esforcei para mudarem estavam cheios de fúria. Conseguia enxergar ela me imaginando queimando no inferno. E então veio a frase que ecoou por dias, semanas, meses e ainda ecoa por aproximadamente um ano e meio na minha mente:
"Você. Você é uma aberração. Aberração".
Meu coração se partiu em milhões de pedacinhos. Ver uma pessoa que eu sempre cuidei e dei todo o carinho que podia dizendo todas aquelas coisas sem dó e nem piedade me despedaçou por dentro. Tentei não chorar mas logo senti minhas bochechas quentes e minha visão foi ficando turva aos poucos. Não enxergava quase nada, e estava soluçando que nem louque, praticamente sem ar.
Não superei totalmente e acho que nunca vou superar. Mas não consigo deixar de amar ela. Eu não fui uma gravidez planejada e ela nem me criou, mas eu tenho esse vínculo de empatia por ela. Não estou dizendo que sou um santo, longe disso, mas eu NUNCA vou falar mal dela, dos comportamentos atuais dela, porque sei pelo que ela passa (todos sabem, mas pareço ser o único que liga para isso). Me lembro de cada xingamento grotesco que saiu da boca dela e me acertou em cheio, mas eu não consigo deixar de amar ela. Não. Consigo. Me pego precoupado com ela no meio do dia, sonho com ela e até choro porque ela está numa situação horrível, mas não quer minha ajuda. Ela não me quer mais. Ninguém me quer mais.
E ninguém quer ajudar ela. Todos da família falam mal dela pelas costas, e eu escuto tudo extremamente decepcionado porque eles SABEM o que ela enfrenta, mas não mexem um dedo para ajudar. Sei como é não conseguir levantar da cama, sei o que é ter um ataque de pânico e sentir que está morrendo a cada milésimo de segundo e eu SEI como é tentar cometer suicídio e falhar miseravelmente. Ela me odeia, eu a amo, mas não posso fazer nada para ajudá-la. Odeio isso.
Todas as pessoas que descobriram minha identidade se gênero se afastaram. Parentes, amigos, até alguns professores começaram a me tratar com um certo desprezo. Me sinto um idiota por ser tão afetuoso. Eu quero ver todos felizes e não estou disposto a sacrificar a minha felicidade por isso, mas e quando EU sou o que causa esse atrito? Não posso mudar quem sou, e mesmo se pudesse não mudaria. Eu amo ser transgênero, amo ser pansexual e tenho muito apreço pela comunidade LGBTQIA+, mas isso me afasta de todos no mundo real. Todos. Já sofria bullying e, meu coelho de pelúcia do mar, sofri mais ainda quando descobriram que sou trans. Conheço o coração da maioria das pessoas da minha sala, em algum momento dessa jornada juntos eles já choraram pra mim por N motivos. Ver eles me xingando na cara e pelas costas, depois de tudo, me decepcionou muito. Até me bateram, e pô, foi mó rolê porque não pude fazer nada.
E antes que alguém fale que o mundo não vai mudar para que eu me sinta melhor, eu sei disso. Olha só a expectativa de vida de pessoas trans nessa porra desse país. O país que aplaudiu uma travesti sendo espancada até a morte. O país que faz piada com identidade de gênero alheia. O país que tem esse inferno de dinossauro BURRO na presidência. Isso aqui é só um desabafo e sei que preciso tratar meus problemas na terapia, mas como essa pandemia não acaba nunca (e se depender do brasileiro não vai acabar mesmo), não posso voltar ainda. Só queria colocar isso pra fora porque está preso na minha garganta a muito tempo.
Enfim, uma lição: não cuidem demais das pessoas, elas provavelmente vão te decepcionar. Se for cuidar de alguém, tenha consciência que pode sair fodido disso aí.
Feliz Natal para todos, mesmo que esse desabafo seja bem infeliz.
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Por fim, a maior causa de morte pelo mundo é a cardiopatia isquêmica, uma doença com verificação de isquemia, menor fornecimento de sangue, do miocárdio. No geral, o motivo é por aterosclerose coronariana. O risco para desenvolver a doença se eleva com fatores como idade, tabagismo, dentre outros. Enquanto isso, cerca de 2 milhões de pessoas em todo o mundo morreram por suicídio ou homicídio. No Reino Unido, as mortes por suicídio aumentaram 16 vezes, sendo esta a principal causa de morte para homens entre 20 a 40 anos. As drogas provenientes do ópio também aparecem como grandes causadoras de mortes em alguns países. Biologia. Dentre as principais causas de morte do mundo, destacam-se os problemas cardiovasculares e doenças relacionadas com o sistema respiratório. Neste texto, apresentaremos as dez OMS divulga as dez principais causas de morte no mundo - A Organização Mundial de Saúde divulgou as principais causas de morte no mundo. Estas informações podem ajudar a avaliar a eficácia do sistema de saúde de um país, promover melhorias nas ações de saúde pública e colaborar para a redução das mortes evitáveis. - Saúde - news.med.br Ao analisar as 57 milhões de mortes registradas no mundo em 2008, a Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que uma parte considerável foi causada por doenças cardíacas isquêmicas: 7,25 milhões (12,8%) dos casos, o que as colocou em 1º lugar na média mundial. Porém, nos países de baixa renda, essas enfermidades ficaram em 4º lugar: a principal Ainda que estejamos apenas na primeira metade de 2020, a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, caminha para se tornar uma das principais causas de morte em todo o mundo. A pandemia já matou mais de 280 mil pessoas em todo o mundo desde o dia 9 de janeiro, quando o primeiro óbito foi registrado na cidade de Wuhan, na China. Clique aqui 👆 para ter uma resposta para sua pergunta ️ Qual doença é a segunda maior causa de morte entre mulheres no Brasil e do mundo, e apenas 10% dos caso… No entanto, o estudo sobre Carga Global de Doença (GBD) do IHME estima que cerca de 620 mil pessoas ainda morreram de malária em 2017. Acidentes rodoviários também estão incluídos entre as principais causas de morte, reivindicando 1,2 milhões em 2017. Ainda que estejamos apenas na primeira metade de 2020, a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, caminha para se tornar uma das principais causas de morte em todo o mundo. O serviço de rastreamento Worldometers apontou o aborto como a maior causa de morte no ano passado. Foram contabilizadas 42,4 milhões de ocorrências da prática, em todo o mundo. – Segundo a OMS, todos os anos no mundo há cerca de 40 a 50 milhões de abortos. Isso corresponde a aproximadamente 125.000 abortos por dia – informou o Worldometers.

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